sábado, 30 de março de 2013

mamae@mamae.com

Queridos Marido e Filhos,
Em primeiro lugar, Mamãe gostaria de agradecer a presença de todos nesta Primeira Convenção Familiar. Mamãe sabe como foi difícil abrir um espaço nas agendas de cada um de vocês: Papai tinha uma lavagem de carro praticamente inadiável, Júnior já tinha marcado de se trancar no quarto, Carol estava para receber pelo menos três telefonemas importantíssimos de uma hora e meia cada um.
Mamãe está comovida. Muito obrigada.
Bem, conforme Mamãe já tinha mais ou menos antecipado, esta convenção é para comunicar ao público interno - Papai, Júnior e Carol - todas as modificações nos produtos e serviços da linha Mamãe.
Como vocês sabem, a última vez que Mamãe passou por reformulações foi há 14 anos, com o nascimento do Júnior. De lá para cá, os hábitos e costumes, o panorama cultural, a economia e o mercado passaram por transformações radicais.
Mamãe precisa acompanhar a evolução dos tempos, sob pena de ver sua marca desvalorizada.
Para começar, Mamãe vai mudar a embalagem. Mamãe sabe que esta é uma decisão polêmica, mas, acreditem, é o que deve ser feito.
Mamãe sai desta convenção direto para um spa, e de lá para uma clínica de cirurgia plástica.
Nada assim tão radical. Haverá pouquíssimas alterações de rótulo,vocês vão ver.
Mamãe vai continuar com praticamente o mesmo formato, só que com linhas mais retas em alguns lugares e linhas mais curvas em outros.
Calma, Papai! Mamãe já captou recursos no mercado.
Mamãe vai ser patrocinada por uma nova marca de comida congelada. Lei Rouanet, porque Mamãe também é cultura. Junto com o lançamento da nova embalagem de Mamãe, no entanto, acontecerá o movimento mais arriscado deste plano de reposicionamento.
Sinto informar, mas Mamãe vai tirar do mercado o produto Supermãe...
Não, não, não adianta reclamar. Supermãe já deu o que tinha de dar.Trata-se de um produto anacrônico e superado, antieconômico e difícil de fabricar.
Mamãe sabe que o fim da Supermãe vai aumentar a demanda pela linha Vovó, que disputa o mesmo segmento. Paciência. Você não pode atender todos os públicos o tempo todo.
No lugar da Supermãe, Mamãe vai lançar (queriam que eu dissesse 'vai estar lançando', mas eu me recuso) novas linhas de produtos mais adequados à realidade de mercado.
Vocês vão poder consumir Mamãe nas versões Active (executiva e profissional), Light (com baixos teores de pegação de pé), Classic (rígida e orientadora), Italian (superprotetora) e Do-It Yourself (virem-se, fui passear no shopping).
Mas uma de cada vez, sem misturar.
Ah, sim, Mamãe detesta esses nomes em inglês, mas me disseram que, se não for assim, não vende. Mamãe gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar seus novos canais de comunicação.
De hoje em diante, em vez de sair gritando pela casa, vocês vão poder ligar para o SAC-Mamãe, um 0300 que dá direto no meu celular (apenas 27 centavos por minuto, mais impostos).
Mamãe também aceita sugestões e críticas no endereço http://br.mc1114.mail.yahoo.com/mc/compose?to=mamae%40mamae.net
Mais uma vez Mamãe agradece a presença e a atenção de todos.
(Autoria Desconhecida - mas, um GÊNIO!)

sexta-feira, 29 de março de 2013

O Amor que renova a Vida

O Amor que renova a Vida

Rodolfo Pamplona Filho
Coisa linda
da minha lida,
desejar-te desde sempre,
ter-te agora e eternamente,
é uma alegria,
que refaz o dia!
Amar-te é uma arte,
que o destino trouxe-me a sorte
de tua vida fazer parte,
até que nos separe a morte...
Tu és a minha única musa,
que dá sentido a uma alma confusa...
Tu és a minha moça,
que renova a força
de olhar para o horizonte,
de não temer o que está defronte,
seja escrever um livro
ou saber que ainda estou vivo...

Salvador, 07 de março de 2012.

quinta-feira, 28 de março de 2013

No tempo de meu pai

06 de março de 2012 | N° 17000

PAULO SANT’ANA

No tempo de meu pai

Assisti domingo a uma impressionante entrevista com o ator Lima Duarte no Fantástico.

Impressionante. Ele é dono de um talento e uma simpatia estupendos.

Foi longa a entrevista e eu estava deitado na cama, assistindo a ela.

Senti em meio à entrevista a vontade de ir no banheiro e me segurei, continuei ouvindo o extraordinário relato da vida de Lima Duarte.

*

Tocou-me particularmente uma coisa que ele disse: quando referiu que tinha 14 ou 15 anos de idade e seu pai, muito pobre, chamou-o e disse que não podia mais sustentá-lo. Ele iria ter de lutar pela vida sozinho.

Eles moravam, ao que me parece, numa cidade interiorana de Minas Gerais. O pai colocou-o dentro de um caminhão e exportou-o para São Paulo.

E ele veio, como milhões de migrantes já vieram, fazer a vida em São Paulo.

*

O que me chamou a atenção foi que Lima Duarte em nenhum momento classificou como crueldade o fato de seu pai ter-se livrado dele e o exportado para São Paulo.

Pelo contrário, dedicou palavras de ternura a seu pai e entendeu como normal o seu gesto de ter-se livrado dele e mandado que ele fosse, completamente sozinho, tentar a vida na cidade grande.

Isso me impressionou porque aconteceu exatamente o mesmo comigo. Quando tinha a mesma idade, 14 ou 15 anos, meu pai me botou para fora de casa, me dando a entender que tinha muitos filhos, meus irmãos, que eu tinha de fazer por mim e tratar sozinho do meu sustento.

É muito triste isso. Sinto que sofro uma punhalada quando recordo esse fato.

*

Foi por isso, por ter sido mandado para fora de casa ainda garoto, que adorei uma canção do Benito di Paula, que até hoje tenho decorada e ainda canto: “Ah, eu chorei/ quando saí lá de casa/ enfrentei o mundo/ eu chorei/ ah, só eu sei, que pra chegar onde estou/ eu confesso lutei/ eu lutei!”.

Foi dura a vida para mim, como deve ter sido para o Lima Duarte, quando nossos pais nos enxotaram de casa.

*

Só tem uma diferença, a pior para mim, entre as duas histórias: eu nunca perdoei meu pai por ter-se desfeito de mim e não ter permitido que eu continuasse em casa, a enfrentar as dificuldades da vida junto dele, apegado à família. Nunca perdoei.

E Lima Duarte, ao contrário, entendeu seu pai e dedicou na entrevista palavras doces para seu amado pai.

Eu fico pensando que esta deve ser apenas uma das muitas injustiças que fiz à memória de meu pai.

Como em tudo na vida, cometemos injustiças quando não nos colocamos no lugar das pessoas que condenamos.

E, cotejando essas duas histórias, confesso que tenho ainda dúvida se eu não fui ou fui severo demais no julgamento de meu pai, ou se Lima Duarte usou de excesso de benevolência ao julgar seu pai no episódio.

E, terrivelmente, a esse respeito, sempre chega a hora para alguns pais pobres em que eles são obrigados a se desfazer e se afastar dos filhos, em nome da sobrevivência.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Soneto do Soneto

Soneto do Soneto

Rodolfo Pamplona Filho
Qual será o real segredo
de se fazer um bom soneto?
Trabalhar dois quartetos
e juntar com dois tercetos?

A fórmula parece rasa,
em que a palavra apenas casa
com outra na mesma rima,
marcando a métrica como sina.

O desafio é muito maior,
pois não é falar de cor
uma seqüência pronta, para valer,

mas é exercitar, da síntese, o poder
de dizer tudo em quatorze linhas,
sem se perder nas entrelinhas...

Salvador, 20 de dezembro de 2011.

terça-feira, 26 de março de 2013

“Perfeição”

“Perfeição”


Que mistérios o envolve?
Que forças o detém ?
Se a minha energia se dissolve
No magnetismo que ele tem?

Se a todo e qualquer momento
Seu fascínio me convém?
Se o meu pensamento
Com a sua imagem se entretém?

Quais os ventos que o conduz
Brisa suave ou rude tormenta?
Sombras, negrumes ou raios de luz
Que poderes o movimenta?

Brilhante é o seu olhar, profundo!
Miríade de beleza que seduz...
Nenhum outro ser no mundo
Com a mesma grandeza reluz!



Seus pés são dois alicerces
Firmados na base do vigor.
Os olhos, alcandoradas preces
Que poeta algum pode compor!

Suas pernas são colunas vitais
Sustentando um corpo robusto
Seu peito, sede de arsenais
Que abriga um homem augusto!

Suas mãos são ágeis, criativas
Arquitetas de mágicas carícias.
Seus lábios são nascentes vivas
De um melífluo mar de delícias!

Seu pensar paralisa o universo,
Seu sorriso ameniza minhas dores,
Seu falar revela-me o verso,
Seu caminhar fertiliza as flores!

O cântico da sua boca é sagrado,
Os gestos do seu corpo são ciência.
Seu meditar é barco ancorado,
No grande porto da inteligência!



Seu espírito é essência divina,
(Formosos são os detalhes seus)
Dele, monarca, é que se origina
Os fervorosos anseios meus.

Na esperança, meu ser se anima:
A Fé é escudo até para os ateus!
Eu e Ele unidos, esta é a sina
Um tálamo eterno nos dará Deus!

Carmen Cardin

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mimetismo de Amor

Mimetismo de Amor

Rodolfo Pamplona Filho
É normal
diria mais: habitual
que a convivência
gere a consequência
da identificação
virar unificação
e que casais,
que se amam demais,
passem a se vestir
e a sorrir
da mesma forma
na mesma norma...
É o mimetismo do amor,
em que o calor
é compartilhado,
como um efeito dobrado,
de quem se quer ao lado...

Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

domingo, 24 de março de 2013

Perdoe seus pais

06 de março de 2012 | N° 17000

FABRÍCIO CARPINEJAR

Perdoe seus pais

Gostamos mais de punir do que amar e perdoar. Para reclamar e cobrar, não pensamos duas vezes. Para desculpar, ainda estamos pensando.

Todo marido ou esposa sofre com a separação. É resistir ao transbordamento do ressentimento, acompanhar com pesar a transformação de uma personalidade atenta e interessada em tudo o que você diz para um ente completamente estranho, indiferente e amargo, que mal olha em seus olhos.

Se a antipatia declarada do divórcio já atormenta, não conheço algo mais cruel do que a distância de uma mãe de seu filho. Quando o filho rompe com os pais velhos e demora a fazer as pazes, confiando num futuro infinito para a reconciliação.

Na praia do Cassino, a amiga Berenice, 73 anos, comprou duas casas geminadas, uma para si e outra para seu filho, Juvenal, 39.

O que ela não previa era o estremecimento das relações entre os dois. O boicote filial vem durando quatro veraneios.

Juvenal prepara churrasco, recebe amigos e familiares, brinca com os vizinhos, e jamais convida sua mãe a participar de qualquer festa. Ela fica na varanda, triste e sonolenta, observando a algazarra, mexendo sua cadeira de balanço para trás e para frente.

Juvenal passa de manhã pela residência materna, que é caminho da padaria, e não a cumprimenta nem na ida, muito menos na volta. Atravessa reto, como se ela não existisse, como se fosse um túmulo desconhecido.

Seu desprezo extrapolou a conta. Mesmo que tenha razão em brigar, não há sentido em prolongar a dor de alguém que envelheceu.

Ela experimentou 60 dias na praia com a expectativa de uma retomada dos laços com sua criança grande. E os dias são décadas para a terceira idade. E as décadas são séculos para os cabelos grisalhos.

Não tomava banho de mar para não correr risco de perder o reencontro. Mantinha-se tricotando na entrada, despistando o choro da voz. Uma Penélope do próprio ventre. Uma viúva de suas vísceras.

É um erro forçar que nossos pais mudem de comportamento, é uma tolice educá-los com reprimendas e devolver castigos da infância, é inútil propor que eles concordem com nossas opiniões. Forçar uma retratação não tem sentido. O ódio é apenas um segundo nome da dependência.

O filho sempre será o lado mais fraco, acostume-se, o lado que deve ceder. Não é justo brigar com quem tem o dobro de nossa idade. Podemos guerrear com irmão, virar as costas a um amigo, onde ocorre uma equivalência etária, onde haverá tempo para acertar as arestas.

Mas nunca destrate pai e mãe enrugados. Finja que concorda. Mude de assunto. Não seja o centro da discórdia. Não prolongue o mal-estar. Estar certo não nos acrescenta em importância.

Esqueça o rancor. Antes que a morte seja a última lembrança. E o arrependimento cubra a lápide com a voracidade dos inços.


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