sábado, 23 de janeiro de 2016

Oração ao meu espaço


Me serve meu espaço
Em você encaixo
Caixas, calças, calçados,
Peças, louças, achados,
Tudo que posso guardar
Cada um no seu lugar
Sempre assim.
Espaço,
Te peço, a eles acolhe
Sabe que é a vida
Estendida em mobília
Espaço, acolhe enfim
O que ao fim
Será de partilha
E não servirá mais a mim.

SILVIA PIRES
http://silviapires-vidaemletras.blogspot.com/


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Quinze (soneto)


Rodolfo Pamplona Filho

Debutar é a simbologia
de um rito de passagem,
em que uma vida, outrora vazia,
ganha nova mensagem

de uma linda esperança
de que a vida pode ser diferente
com a inocência de criança
e o desejo adolescente

Quinze vezes
Quinze anos
Quinze planos

Contam-se os meses
Trocam-se os panos
Descobre-se o que é ser sano.

Salvador, 14 de dezembro de 2011.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

VIVENDO




Antes da noite, há o dia.
Antes do calor do verão, belas flores na primavera.
Antes da chegada, a caminhada.
Antes do sim, pode haver um não. Ou quem sabe vários.
Antes da conquista, deve haver luta.
Antes do sucesso, muito trabalho.
Antes de qualquer coisa, é muito bom que haja vida.
Há sempre algum antecedente!
E, assim, nós vivemos. Por etapas.
Feliz daquele que sabe viver o momento.
Que, com calma, mantém-se sempre buscando.
Quando se quer muito algo que está adiante, prossegue-se.
Quando não, para-se no caminho.
Mas, em meio a tudo isso, a vida continua!
O importante é sempre se manter em movimento. Seguindo!
Ainda que a rota seja desviada, siga.
Ainda que você encontre uma “pedra no caminho”, siga.
Algo pode estar lhe esperando lá na frente.
Nunca fique parado, aguardando sei lá o quê.
Na dúvida de qual o caminho seguir, ouça o seu coração. Ele pode ter razão!

Maceió, 12 de dezembro de 2011
Rafaela de Freitas Santos


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Soneto da Confiança no Além (ou da Solidariedade na Necessidade)

Rodolfo Pamplona Filho


Não há nada gentil
em ser chamado de gentio...
Não há geografia
para quem tem ousadia

de ser sustentado
por quem nada tem,
totalmente confiado
em quem está no além.

Pedir com base (ou sem),
não com o que os olhos veêm,
mas com o que o coração sente

fará encontrar a generosidade
que suprirá toda necessidade,
trazendo a paz que nunca mente.

Salvador, 08 de janeiro de 2012.


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O Cantar do Galo




"Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado." Lucas 14.11

Era uma vez um galo que acordava bem cedo todas as manhãs e dizia para a bicharada do galinheiro:

Vou cantar para fazer o sol nascer…

Ato contínuo subia até o alto do telhado, estufava o peito, olhava para o nascente e cantava seu belo canto!

E ficava esperando.

Dali a pouco a bola vermelha começava a aparecer, até que se mostrava toda, acima das montanhas, iluminando tudo.

O galo se voltava, orgulhoso, para os bichos e dizia:

Eu não falei?

E todos ficavam boquiabertos e respeitosos ante o poder tão extraordinário conferido ao galo: cantar para fazer o sol nascer.

Ninguém duvidava. Tinha sido sempre assim.

Havia grande ansiedade entre os moradores do galinheiro.

E se o galo ficasse rouco?
E se esquecesse da partitura?
Quem cantaria para fazer o sol nascer?
O dia não amanheceria?
E por causa disso cuidavam do galo com o maior cuidado.
Ele, sabendo disso, sempre ameaçava a bicharada, para ser mais bem tratado.

Olha que eu enrouqueço! – dizia.

E todos se punham a correr, para satisfazer as suas vontades.

O galo, por sua vez, tinha enormes oscilações emocionais.
Pela manhã, depois de o sol nascer, sentia-se como um deus, onipotente e admirado e não era para menos.
Mas à noite vinham a depressão e a ansiedade.

Não posso perder a hora, dizia. Se eu não cantar, o sol não vai nascer. E não conseguia dormir um sono tranquilo.

Isto, na verdade, acontece com todas as pessoas que se acham poderosas assim. Paira sempre sobre elas a ameaça de fim do mundo.

Aconteceu, como era inevitável, que certa madrugada o galo perdeu a hora.
Não cantou para fazer o sol nascer.
E o sol nasceu sem o seu canto.
O galo acordou com o rebuliço no galinheiro.
Todos falavam ao mesmo tempo.

O sol nasceu sem o galo… O sol nasceu sem o galo…

O pobre do galo não podia acreditar naquilo que seus olhos viam: a enorme bola vermelha, lá no alto da montanha. Como era possível?
Teve um ataque de depressão ao descobrir que o seu canto não era tão poderoso como sempre pensara.
E a vergonha era muita.

Os bichos, por seu lado, ficaram felicíssimos.
Descobriram que não precisavam do galo para que o sol nascesse.
O sol nascia de qualquer forma, com o galo ou sem o galo.

Passou-se muito tempo sem que se ouvisse o cantar do galo, pois estava deprimido e humilhado.
O que era uma pena: porque é tão bonito.
Canto de galo e sol nascente combinam tanto.
Parece que nasceram um para o outro.

Até que, numa bela manhã, o galinheiro foi despertado de novo com o canto do galo.
Lá estava ele, como sempre, no alto do telhado, peito estufado.

Está cantando para fazer o sol nascer? – perguntou o peru em meio a uma gargalhada.

Não, – respondeu o galo. Antes, quando eu cantava para fazer o sol  nascer, eu era doido varrido. Mas agora eu canto porque o sol vai nascer. O canto é o mesmo. E eu virei poeta…

Adaptação da fábula contada por Rubem Alves

Colaboração de Um Amigo de Deus Marco Antonio


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Soneto das Cores


Rodolfo Pamplona Filho



Ó, Deus, não me tire a luz
que me permite e seduz
ver a explosão de cores
ou um caledoscópio de amores!

Os raios que invadem a retina
permitem vislumbrar a sina
de quem não tem a felicidade
de conhecer a diversidade,

pois dominar a paleta do amor
é ser Senhor da mais bela arte
que transforma toda parte,

convertendo o cinza em cor,
para, no mundo, ser franco
e nunca mais ver em preto e branco.

Salvador, 07 de janeiro de 2012.

domingo, 17 de janeiro de 2016

O que eu adoro em ti



Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!

Manuel Bandeira