sábado, 2 de março de 2013

Em Busca de um Amor só Meu

Em Busca de um Amor só Meu
Darci HF

Quero um lugar
que não seja subalterno
na vida de alguém.
Quero um amor
que seja só meu
o qual, eu não precise,
dividir com mais ninguém.
Quero ter um homem
com alma de poeta
e jeito de menino,
que me desnude, de corpo e alma,
que me faça fêmea, sem temor,
mulher desejada, com amor.
Que olhe nos olhos enquanto me ama,
que encha de flores a nossa cama,
que toque meu corpo com doçura,
que me beije com loucura,
que me leve ao gozo mais forte,
e tenha comigo o mais puro prazer.
E neste encontro de desejo,
que comunga força, suor, carinho e beijo,
sinta que sou inteiramente sua,
e que ele, só poderia ser, apenas meu...

sexta-feira, 1 de março de 2013

Uma derradeira lição de amor

Uma derradeira lição de amor

Rodolfo Pamplona Filho

Para efetivamente saber
se realmente você
soube transmitir
tudo que o amor pode permitir,
pense se, ao partir,
você pode ter a convicção
de que, ao menos para uma mulher nesse mundo,
ensinou a mais bonita e importante lição
sobre o que é o amor verdadeiro...

Pois, se há muito a ensinar,
talvez uma única afirmação
seja suficiente para mostrar
qual é o sentido e a razão
de sinceramente acreditar
na força que vem do coração.

O amor que é plenitude,
porque é a total aceitação.
O amor que existe pelo que se é,
e não pelo que se idealiza
ou se deseja que fosse.


O amor que,
mesmo aparentemente
sem futuro ou esperança,
é a própria encarnação
de um sorriso de criança,
porque é, a um só tempo,
sossego, delírio e salvação.

O amor que se aprende sem doer
e que se ensina sem doutrinar
é o que permite salvar
alguém de ser apenas si própria
e da possibilidade de um dia ser só.


É o amor que lança e transforma,
sem receio de se perder,
mas sempre com a certeza
de nunca mais solidão ser.

Salvador, 23 de outubro de 2011.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

"Da vez primeira em que me assassinaram..."


"Da vez primeira em que me assassinaram..." de Mario Quintana


Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

Mario Quintana (A Rua dos Cataventos, 1940)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Bem barroca


Bem barroca

Hoje foi chato. Não que aquele otimismo de ontem tenha se esvaído, mas simplesmente pelas metamorfoses e inconstâncias do mundo. Um dia bom, outro ruim, outro ótimo e assim vai. Tudo passa, amanhã já vem.

Hoje tou bem barroca, um espírito de tensões e contrastes. Às vezes conceitual, às vezes emocional.

Hoje tou afim de antíteses, metáforas, hipérboles.

Hoje tou um misto quente, em linguagem popular. Um tanto satírica aos olhos de Gregório de Matos, famoso "Boca do Inferno" que abrasileirou o Barroco vindo da Europa. E é com ele que termino meus comentários de Hoje.
Soneto
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua lingua ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa:
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.


Isabella Paranaguá

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Pensando sobre "Depois de tudo"

Pensando sobre "Depois de tudo"
Malu Calado

"Depois de tudo"
ainda me assusta...
Às vezes espero
algo que nem sei se vem...
A ansiedade toma conta
e me vejo caindo
num poço sem fundo.
Respiro fundo.
Olho determinado ponto
e penso em versos.
Construo frases bregas,
bem piegas
como: "Ah! Você vai!"
E aí levanto bamba,
um pouco trêmula,
sem gás.
Prendo meus cabelos
brancos, sempre,
e só de vê- los
brancos, os cabelos...
Levanto e vou

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Poema para o Deus TV

Poema para o Deus TV

Rodolfo Pamplona Filho
Ó, Grande Oráculo do Momento,
obrigado por ressaltar a emoção,
reduzir o pensamento
e suprimir a imaginação...

Sou grato pela artificialidade
das soluções rápidas de amargar
e por me dar a incapacidade
de me indignar...

Agradeço, ó Deus Soberano,
pelas manipulações mentais
do desejo humano
para fins comerciais

Ilumina-nos com vossa luz piscante,
desligando, em um rompante,
meus transmissores neurais
e qualquer chance de algo mais.

Regala-me com minha
absoluta falta de reação,
enquanto minha mente definha,
pela ausência de reflexão,

pois minha segurança emocional
depende de satisfazer
uma necessidade banal
que não havia até você me dizer...

Praia do Forte, 19 de fevereiro de 2012.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pedro, Meu Filho...

Pedro, Meu Filho...
Vinicius de Moraes

Como eu nunca lutei para deixar-te nada além do amanhã indispensável: um quintal de terra verde onde corra, quem sabe, um córrego pensativo; e nessa terra, um teto simples onde possas ocultar a terrível herança que te deixou teu pai apaixonado - a insensatez de um coração constantemente apaixonado.
E porque te fiz com o meu sêmen homem entre os homens, e te quisera para sempre escravo do dever de zelar por esse alqueire, não porque seja meu, mas porque foi plantado com os frutos da minha mais dolorosa poesia.
Da mesma forma que eu, muitas noite, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua.
E porque vivemos tanto tempo juntos e tanto tempo separados, e o que o convívio criou nunca a ausência pôde destruir.
Assim como eu creio em ti porque nasceste do amor e cresceste no âmago de mim como uma árvore dentro de outra, e te alimentaste de minhas vísceras, e ao te fazeres homem rompeste meu alburno e estiraste os braços para um futuro em que acreditei acima de tudo.
E sendo que reconheço nos teus pés os pés do menino que eu fui um dia, em frente ao mar; e na aspereza de tuas plantas as grandes pedras que grimpei e os altos troncos que subi; em tuas palmas as queimaduras do Infinito que procurei como um louco tocar.
Porque tua barba vem da minha barba, e o teu sexo do meu sexo, e há em ti a semente da morte criada por minha vida.
E minha vida, mais que ser um templo, é uma caverna interminável, em cujo recesso esconde-se um tesouro que me foi legado por meu pai, mas cujo esconderijo eu nunca encontrei, e cuja descoberta ora te peço.
Como as amplas estradas da mocidade se transformaram nestas estreitas veredas da madureza, e o Sol que se põe atrás de mim alonga a minha sombra como uma seta em direção ao tenebroso Norte.
E a Morte me espera em algum lugar oculta, e eu não quero ter medo de ir ao seu inesperado encontro.
Por isso que eu chorei tantas lágrimas para que não precisasse chorar, sem saber que criava um mar de pranto em cujos vórtices te haverias também de perder.
E amordacei minha boca para que não gritasses e ceguei meus olhos para que não visses; e quanto mais amordaçado, mais gritavas; e quanto mais cego, mais vias.
Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei.
E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar:
Assim é o canto que te quero cantar, Pedro meu filho...