sábado, 4 de dezembro de 2021

Quilombo de Luz




(Negra Luz)


Há neles nascentes!

Há neles sementes!

Guardados de Tempo.

Saberes fincados na terra.

Pisam ali pretas e pretos.

Quem vem de cá

Que dobre o joelho!

Lá a realeza deixou no sangue

A resistência em:

Manifestações...

Arquétipos...

Símbolos...

Orixás,

A espada de Ogum,

O machado de Xangô,

O espelho de Oxum,

Fios de cabelo que irrompem

A anormal força da gravidade racista

E, no quilombo, encontram espaço para se fortalecerem.

Tudo raiz.

Tudo ancestral.

E, quando diante de nós,

Suas filhas e seus filhos,

Em plena liberdade,

Não há como não vermos a beleza de suas luzes.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Homens Feministas?





                               
         
     
  


Seu medo é diferente do meu.
Seu sexo pode ser
instrumento de terror.
Não me venha com
suas boas intenções,
pois, com elas,
pavimenta-se
a estrada para o inferno.
Sua posição soa mais
como indevida apropriação
do que compartilhamento.
Sua gentileza vira violência
Seu abraço não conforta,
mas, sim, agride.
O seu beijo machuca
e seu carinho quer me subjugar.
Não preciso de um defensor,
mas, sim, de um aliado,
quando chamado,
pois mesmo aliados
podem ser encarados
como inimigos infiltrados,
se não for delimitado
qual seja seu lugar de fala.
Suas brincadeiras não têm graça.
Sua cortesia me ofende.
Suas palavras,
em vez de inspirar,
apenas despertam minha ira.
Melhor permanecer calado...
E simplesmente ficar ao lado,
esperando a manifestação
de quem se ofendeu,
aguardando a reação,
em vez de tomar,
para si, a sua defesa,
pois, até para lutar,
é preciso legitimidade,
para não desvalorizar o movimento...




Salvador, 16 de agosto de 2016, compreendendo-se como parte do opressor na busca por não oprimir...



quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Os pretos sabem




Tudo o que vc diz que entende

Os pretos entendem mais.

Pobreza extrema nos guetos.

Elogios a partir dos queiros.

Questionar a beleza dos cabelos.

Distinguir os odores, como pior dos cheiros.

Fazer-los primatas.

Bois aos ferros.

Arados em terras, forasteiros...

Sim, entendem mais.


Tudo o que vc diz que já passou

Os pretos passaram mais.

Tortura, mais.

Estupro, mais.

Fome, mais.

Infância banalizada, mais.

Mulher subjugada, mais.

Analfabetismo, mais.

Veja os números!

Sim, somam mais.


Tudo o que vc diz que foi difícil

Para os pretos é muito mais.

Estudar, mais.

Doutorar-se, “anormais”.

Um bom emprego, “especiais”.

Incomuns, isolados, desiguais!

Até a ciência não nega: somos iguais.

As leis ratificam: somos iguais.

Aos sete palmos: iguais.

Mas veja!

Veja os “podiuns”! 

Pesquise.

Depois me diga:

Quantos pretos verás?


E sabe o porquê?

Não entende esse detalhe?

Não aceita?

Não assume?

Duro, não é?

Desumano, existir.

Mas saiba:

O preto, a preta, sabem!

É a pele. É a cor!

E isto nunca saberás.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Alívio






Como é estranho  

não sentir falta 

do que era essencial 

até bem pouco... 

 

Como é inovador  

poder respirar novamente  

sem a sensação  

de que tudo sufocava... 

 

Como é libertador 

saber que há vida  

fora do casulo 

da sua metamorfose... 

 

Como é revigorante  

saber que há novas perspectivas  

de poder viver a vida 

como ela deve ser vivida. 

 

Salvador, 26 de janeiro de 2021. 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Pretos e pretas também sabem

 





(Negra Luz)


Pretos e pretas também sabem…

Sabem de sentimento, de dengo.

Sabem de chamego,

Alforriar-se dos próprios medos,

Entregar-se

E viver o amor.


Pretos e pretas também sabem…

Sabem de alegria e de festa.

Sabem de beijo na testa,

Namorar com delicadezas,

Acarinhar-se

E trazer rosas na mão.


As cicatrizes, ainda espessas, sangram

E, para muitos e muitas, é ferida recente!

Fruto de prática perversa...

Retintam o preto e a preta,

Nutrem a idéia de que preto e preta tem couraça,

De que vida de preto e de preta é ciclo sem fim de dor.


Das tintas impostas retiramos tudo,

Pretos e pretas são pretos e pretas 

E nossa pele não é couro.

O que foi chicoteado e sangrado foi o nosso escudo.

Ele é ancestral… Segue.

Os que não sobreviveram se integraram a ele,

Os sobreviventes foram mais fortalecidos,

 E, assim,

Pretos e pretas seguem….

E sabem

Amar!

Amar suas mulheres 

Seus maridos,

Seus filhos e filhas,

Suas famílias,

Seus amigos e amigas...


Talvez seja este o nosso maior ato de resistência:

Pretos e pretas saberem amar.

Saberem sorrir,

Saberem viver com alegria.

Saberem viver o amor.

E sabe por quê?

Na essência,

A nossa alma é alforriada!

Subjugaram, historicamente, os nossos corpos,

Mas, ainda que tenham investido na total desumanização de pretos e pretas,

Não alcançaram integralmente a liberdade

Do nosso coração,

Do nosso pensar,

Do nosso sentir.

E, assim,

Resistimos!

E, assim, a nossa resistência:

Pretos e pretas sabem

AMAR.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Muzuá, Puçá e Caçuá

 




Muzuá é a armadilha,

que espera sua vítima

ou decora uma casa;

Puçá é a rede

que impede o siri

de se desvencilhar;

Caçuá é o cesto

que transporta a cangalha

no lombo de um jegue:

Muzuá, Puçá e Caçuá,

três formas de entrelaçar

o que o destino proporcionar.

 

Salvador, 02  de novembro de 2020

domingo, 28 de novembro de 2021

Desclassificando as cores

 



(Negra Luz)


Quis ser primária,

E secundária também fui.

Quis estar no topo.

E fui a mais TOP.

Como fui!

O sol vibrante.

O fogo Ardente.

E um mar de amor

Mais ao poente,

Presenteei-me de ametiste

E, ao jequitibá, avistei a luz.

Eram secundárias as cores ali presentes 

E a beleza...

Tão maior!

Tão igual!

E, num instante angelical,

As cores não tinham classe.

Tinham valor igual.