sábado, 3 de outubro de 2015

Eclipse oculto

Caetano Veloso
 


Nosso amor não deu certo
gargalhadas e lágrimas
de perto fomos quase nada
tipo de amor que não pode dar certo
na luz da manhã
e desperdiçamos os blues do Djavan.
Demasiadas palavras
fraco impulso de vida
travada a mente na ideologia
e o corpo não agia
como se o coração tivesse antes que optar
entre o inseto e o inseticida.
Não me queixo
eu não soube te amar
mas não deixo
de querer conquistar
uma coisa qualquer em você.
O que será?
Como nunca se mostra
o outro lado da lua
eu desejo viajar
no outro lado da sua
meu coração galinha de leão
não quer mais amarrar frustração
o eclipse oculto na luz do verão.
Mas bem que nós fomos muito felizes
só durante o prelúdio
gargalhadas e lágrimas
até irmos pro estúdio
mas na hora da cama
nada pintou direito
é minha cara falar
não sou proveito
sou pura fama.
Não me queixo
eu não soube te amar
mas não deixo
de querer conquistar
uma coisa qualquer em você.
O que será?
Nada tem que dar certo
nosso amor é bonito
só não disse ao que veio
atrasado e aflito
e paramos no meio
sem saber os desejos
aonde é que iam dar
e aquele projeto
ainda estará no ar?
Não quero que você fique fera comigo
quero ser seu amor
quero ser seu amigo
quero que tudo saia
como o som de Tim Maia
sem grilos de mim
sem preconceito, sem tédio, sem fim.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Enantiodromia


Rodolfo Pamplona Filho











Admitir a atração 
pelo outro lado
de si mesmo.
Conseguir a Integração 
dos seus próprios polos.
Conhecer-se inteiramente 
é um desafio 
que poucos enfrentam...
É a busca do que 
não se viveu
para completar 
o que se é...

Capetown, 11 de setembro de 2015.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Vim ao mundo

Hermes de Lima




Vim ao mundo ,

Sigo na vida,

Nela vou

Até aonde der.

Enfrento tropeços

Sorrio com os êxitos,

Assim faço minha ida

Por aí afora,

Por vezes meus olhos

Entristecem e choram

Com as decepções

Que me surpreendem,

Outras vezes busco

Em meu caminho

 O encanto

E na frente, são risos,

Vejo alegria

O prazer nascido,

Brotante de mim.

Dessa forma

Vim ao mundo,

Sigo na vida...

 29/09/2015

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Experimentar Coisas Novas

Rodolfo Pamplona Filho





Provar é arriscar o nojo
de ter pimenta demais,
para descobrir um novo
e maravilhoso sabor de sais
Experimentar é se jogar
sem ter ideia do que encontrar,
mas na certeza de que vale a pena
não viver com a alma pequena.
Assim, mergulho com tubarões
pode até mesmo se converter em
observação e alimentação de gaivotas
e tudo estará bem, vivendo emoções,
pois, mesmo com enjoo de viagem,
tentou-se e não se arrepende na volta.


Gansbaai, 14 de setembro de 2015

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Dá-me a tua mão

Clarice Lispector


Dá-me a tua mão: 
Vou agora te contar 
como entrei no inexpressivo 
que sempre foi a minha busca cega e secreta. 


De como entrei 
naquilo que existe entre o número um e o número dois, 
de como vi a linha de mistério e fogo, 
e que é linha sub-reptícia. 


Entre duas notas de música existe uma nota, 
entre dois fatos existe um fato, 
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam 
existe um intervalo de espaço, 
existe um sentir que é entre o sentir 
- nos interstícios da matéria primordial 
está a linha de mistério e fogo 
que é a respiração do mundo, 
e a respiração contínua do mundo 
é aquilo que ouvimos 
e chamamos de silêncio.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A Agonia da Incerteza

Rodolfo Pamplona Filho



Tranquilidade tem 
quem não pensa 
e se contenta 
em viver o "aqui e agora",
como se o mundo não se importasse
com cada passo,
com cada rumo
ou cada decisão a tomar...
E se importa?
Calma tem
quem não reflete
e se promete
fazer apenas o que for possível,
como se as oportunidades se renovassem 
a cada decisão,
a cada nova ação 
ou a cada retrocesso...
E não se renovam?
Paz tem
quem não se agonia
com a incerteza fria
de que não se pode controlar o futuro,
como se lutar diferença não fizesse
a cada opressão,
a cada maldade 
ou a cada injustiça...
E faz?



Capetown, 11 de setembro de 2015.

domingo, 27 de setembro de 2015

As Vitrines

Chico Buarque de Holanda


Eu te vejo sair por aí 
Te avisei que a cidade era um vão 
- Dá tua mão 
- Olha pra mim 
- Não faz assim 
- Não vai lá não
Os letreiros a te colorir 
Embaraçam a minha visão 
Eu te vi suspirar de aflição 
E sair da sessão, frouxa de rir



Já te vejo brincando, gostando de ser 
Tua sombra a se multiplicar 
Nos teus olhos também posso ver 
As vitrines te vendo passar

Na galeria 
Cada clarão 
É como um dia depois de outro dia 
Abrindo salão 
Passas em exposição 
Passas sem ver teu vigia 
Catando a poesia 
Que entornas no chão