sábado, 8 de fevereiro de 2020

O fim do diálogo


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Rodolfo Pamplona Filho

“Não quero falar!
Minha cabeça está cheia demais!
Cuido de todo mundo,
mas a prioridade agora sou eu!”
Este é o momento
em que todo diálogo morreu.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Motivo


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Cecília Meireles




Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Funcionamento



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Rodolfo Pamplona Filho


Sua mente é um aparelho
em constante busca
de soluções
para qualquer tipo
de problema:
na ausência
de um desafio,
ela se introverte
e entra em modo avião.

Seu cérebro é um processador
mais rápido do que
qualquer computador,
em que todo questionamento
automaticamente
é respondido,
antes que o interlocutor
termine o raciocínio.

Suas atitudes são reflexos
de anos de condicionamento,
em que a lógica
não excluiu a emoção,
mas a separou
em caixas diferentes
para não haver confusão.

Seu coração é um dínamo
que se alimenta de carinho
e deseja retribuir,
como o óleo e o combustível
que renovam e fazem funcionar
todo o sistema.

Ele parece uma máquina
e há quem ache que seja mesmo,
mas, no final das contas,
ele é apenas
o que Nietzsche vaticinou:
humano, demasiadamente humano,
a ponto de ser tão diferente
que a humanidade não lhe reconhece...

São Paulo, 16 de novembro de 2019.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Mar e Lua


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Chico Buarque de Holanda

               

Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar

E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Felicidade

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Rodolfo Pamplona Filho

Felicidade não é meta:
é a forma como se vive;
não é objeto, é o caminho;
não é aquilo que te falta e sim saber aproveitar aquilo que já se tem!

Orlando, 10 de janeiro de 2020.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

O dia de amanhã


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Negra Luz


Estive no dia de amanhã.
Tudo vazio.
Linhas não escritas
Versos não rimados
Passos não dados
Feitos não realizados

Não havia nada.
Só silêncio!
Não havia sol,
Nem luz, nem estrelas.
O vento não se movimentava.

Crianças não sorriam.
Idosos não tinham ainda mais envelhecido.
Não havia dor ou doenças.
Não havia fome, nem pobreza.
Tudo estava no ontem
De onde havia fugido.

Tudo era nada.
Um futuro não acontecido.
Eu não tinha vivido.
E eu aflita...com o que?
Com o dia de amanhã.


domingo, 2 de fevereiro de 2020

Coração de Yemanjá



Imagem relacionada


Rodolfo Pamplona Filho

Quem abarca todos
e cobra atenção
Quem proporciona bençãos,
mas quer retribuição
Quem entrega o mar
e exige reverência
Quem faz tudo pelo outro
e não aceita um não.

Salvador, 04 de dezembro de 2019