sábado, 25 de junho de 2022

C A M I N H A N T E

 





 Como peregrino de fé, sem adeptos, 

 Prossigo, 

 Sangrando os pés nas pedras do caminho 

 Sem fim, 

 Sem direção, 

 Buscador da trilha verde 

 Do regresso, 

 Um dia 

 


 Continuo na jornada 

 Solitária 

 Rotineira 

 Pelas veredas do acaso, 

 Sorrindo quase em prantos, 

 Filtrando velhas mágoas, 

 No remanso das águas 

 Do dourado amanhã 

 


 Alegro-me por nada 

 E nada me alegra. 

 Silencio com todos 

 E comparto tudo 

 Com todos. 

 


 Assim 

 Descanso o amargor 

 Do passado, 

 Na relva macia do esquecimento 

 Até confundir-me,

 Um dia,

 Na poeira atômica 

 Do rio principal. 


-Janete Fonseca

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Difamação?

                              




Arrogante

Egocêntrico 

Metido

Vaidoso

Viado


Arrogante, por ousar falar a verdade;

Egocêntrico, por virar o centro das atenções;

Metido, por conhecer o que é;

Vaidoso, por saber o que já fez;

Viado, pela alheia necessidade 

de dar opinião 

sobre a sexualidade,

como a legitimar 

sua difamação.


Itaparica, 17 de abril de 2022.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

É TEMPO DE PRIMAVERA




 

Ar de primavera 

De fruta cheirosa 

Da beira da praia 

 


Vento na memória 

fareja a mulher 

recém descoberta. 

Passou muito tempo, 

Espelho reflete 

Anel de turquesa, 

soutien vermelho, 

Na boca desenho 

De coração grená 

 


No mundo mudado 

Dos mais avelhados 

Corações calados, 

Erga-se um brinde 

À mulher descoberta 

Só a ouvir estrelas 

Do homem ao lado, 

Cheio de desejos 

Da mulher ardente 

De olhar de fogo, 

Que vai olhando 

Quando o vê olhar 

 


Mulher incansável 

Toma pelas mãos 

retalhos do tempo 

Que se vão passando 

Antes que a tarde 

Primaveril 

morra, aberta, 

dentro de mim.


- Janete Fonseca

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Puer e Senix




Entre o entusiasmo pueril

e a ponderação senil,

há uma zona de conflito 

que leva ao infinito:

como alimentar 

cada lado 

sem aniquilar 

o que é mais caro

para a personalidade:

a descoberta 

do meio termo

que independe de idade,

harmoniza a vaidade,

constrói a civilidade 

e descobre a sua verdade?


Salvador, 22 de abril de 2022.

terça-feira, 21 de junho de 2022

AS FOLHAS DO CREPÚSCULO





Cai a primeira folha, 

A segunda também. 

Mais outra... e outras mais, 

Centenas delas caem 

Das árvores centenárias 

Apenas sopra o vento, 

No alaranjado crepúsculo 

 

E à tarde primaveril, 

Quando o olhar se embaça 

Ao sol da memória, 

Voltam todas, 

Molhando os caminhos 

Em longas cabeleiras 

Em galhos silentes, 

Pingando cores 

 


Também do coração, 

Onde brotam as ilusões, 

Uma por uma vai tombando, 

Descendo ladeiras 

Em fortes enxurradas 

Por esse mundo fora 

Como tombam as folhas das árvores

centenárias 

 


No mar azul da infância, 

Olhar suspiroso e 

Imaginação solta 

Voam...Mas às copas as folhas voltam, 

E elas ao coração não voltam jamais, 

Levadas pelas águas de março 


(PARÁFRASE DO POEMA DE 

RAIMUNDO CORREA  "AS POMBAS")

- Janete Fonseca


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Ciclo de Retroalimentação Negativa

                              


Cuidado com a dor 

Mas tenha mais cuidado ainda

com o remoer do sofrimento 

Uma Espiral negativa 

não tem limite 

e destrói o que

encontrar pela frente

Perde-se o controle 

da racionalidade,

do amor próprio,

da auto estima,

no assassinato

lento e cruel 

daquele sentimento estranho 

chamado esperança.


Salvador, 01 de abril de 2022.

domingo, 19 de junho de 2022

A PALAVRA





 Parceira fascinante, 

 No silêncio do ocaso. 

 Estrada direta a Deus, 

 Dom divino. 

 Nunca se gasta, 

 


 Tampouco envelhece 

 Elixir da solidão 

 Jogo-a no papel 

 Como dado na roleta, 

 De repente, 

 O longe 


           c 


              a 


                   i 

 Perto. 

 O sonho se torna possível, 

 O mundo fica pequeno, 

 Pois o trago, na minha mão, 

 Sob a sombra das palavras. 

 


 Embaralho-as, na memória, 

 Jogo nova cartada, 

 Acerto você, 

 No passado.. 

 Palavras ao vento, 

 Sussurrando à flor 

 Apenas desabrochada. 

 


 Passado virou presente, 

 Nesse jogo de palavras. 

 Voltei aquele amor, 

 Descontente, 

 Longínquo, 

 


 Que lembrar 

 De..mo...ro 

 Navegador do silêncio 

 Pelos recantos do tempo 

 Entre perdas e conquistas 

 Por outros mundos viajando 

 Com palavras de aroma 

 Em frascos verdes de cristal. 

 


 Navegar 

 Foi preciso 

 Entre mil palavras 

 Para iluminar o passado 

 À meia-luz do tempo 

 Que não mais sabia 

 Onde morava, 

 Se vivia, 

 Ria 

 Ou chorava. 

 


 Palavras em meios-tons 

 Espreitam você 

 Agora

 Em repousante silêncio 

 À sombra de velhos tempos. 


- Janete Fonseca