sábado, 3 de agosto de 2013

Paisagem citadina


Paisagem citadina (Luís Miguel Nava)

A pele por fulgurantes
instantes muitas vezes abre-se até onde
seria impensável que exercesse
com tão grande rigor o seu domínio.

Não temos então dela senão rápidas
visões, onde os reclames
do coração se cruzam, solitários
e agrestes, reflectidos

por trás nos ossos empedrados.
Em certas posições vêem-se as cordas
do nosso espírito esticadas num terraço.

A roupa dói-nos porque, embora
nos cubra a pele, é dentro
do espírito que estão os tecidos amarrados.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Conflito Existencial


Conflito Existencial

Rodolfo Pamplona Filho
Conflito existencial.
Crise de identidade.
Saber que o final
não vem com a idade.

Em nada mais acreditar,
nem mesmo no que acha saber...
Deprimir por constatar
ser dissidente do próprio querer...

Declarar algo publicamente
que sabe que é ilusão...
Sentir o desalento ardente

de, um dia, ter afirmado como verdade
o que, hoje, apenas é uma versão,
perdida no choque da realidade.

Éfeso, 25 de setembro de 2012

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sem outro intuito


Sem outro intuito (Luís Miguel Nava)

Atirávamos pedras
à água para o silêncio vir à tona.
O mundo, que os sentidos tonificam,
surgia-nos então todo enterrado
na nossa própria carne, envolto
por vezes em ferozes transparências
que as pedras acirravam
sem outro intuito além do de extraírem
às águas o silêncio que as unia.


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Soneto do Experimentar


Soneto do Experimentar

Rodolfo Pamplona Filho
Um lugar paradisíaco
Um ingrediente afrodisíaco
Uma mais ousada posição
Uma nova e gostosa sensação

Como saber se vai gostar,
sem ao menos experimentar?
Se sabe que mal não faz,
por que o medo de olhar para trás?

Uma aventura exótica
Uma viagem erótica
Uma bebida inebriante

Sabe-se é que a rotina maltrata
e que relações mata
aquele que só quer o constante.

Santiago-Chile, 28 de junho de 2012.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O céu


O céu (Luís Miguel Nava)

Assoam-se-me à alma, quem
como eu traz desfraldado o coração sabe o que querem
dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Malogro


Malogro

Rodolfo Pamplona Filho
Ir na exposição sem ter aberto
Chegar atrasado no teatro perto
Ser enganado pelo taxista do dia
Experimentar o que lhe dá alergia
Brincar com algo que nao agüenta
Sofrer pela conexão lenta
Entrar na festa antes do aniversariante
Brindar réveillon com refrigerante
Um programa que nem quem sugeriu gosta
Um malogro é sempre uma péssima aposta...

Santiago-Chile, 29 de junho de 2012.

domingo, 28 de julho de 2013

Traço comum


Traço comum (Vasco Gato)

descalço-me de sombras para chegar a ti
as linhas do meu rosto são claríssimas
nelas não vês o velho, a criança, o adulto
vês apenas o traço comum
que é onde eu procuro a tua mão
na transparência da minha palavra inteira