sábado, 27 de abril de 2024

Envelhecer

 



Bastos tigre



Entra pela velhice com cuidado,

Pé ante pé, sem provocar rumores

Que despertem lembranças do passado,

Sonhos de glória, ilusões de amores.


Do que tiveres no pomar plantado,

Apanha os frutos e recolhe as flores

Mas lavra ainda e planta o teu eirado

Que outros virão colher quando te fores.


Não te seja a velhice enfermidade!

Alimenta no espírito a saúde!

Luta contra as tibiezas da vontade!


Que a neve caia! o teu ardor não mude!

Mantém-te jovem, pouco importa a idade!

Tem cada idade a sua juventude.


sexta-feira, 26 de abril de 2024

Habeas Corpus

 








A recompensa da luta pela liberdade 

é a mais enaltecedora glória 

que alguém pode conhecer,

pois a liberdade não tem preço

e, como diria Kant,

se as coisas têm valor,

os seres humanos têm dignidade.



Minguito, 09 de abril de 2022.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Descendo o Jaguaribe

 



Beni Carvalho


I

Canta, no agalho agreste, o passaredo... Canta... 

Em flor o cajueiral farfalha; o vento açoita... 

E vai, de fronde em fronde, e vai, de moita em moita, 

Áurea, a luz da manhã que, a sombra, abate e espanta.



Alto, côncavo, azul, escampo, o céu!  Levanta 

O vôo uma ave, além, que o bamburral acoita; 

Não mais a verde mata a treva espessa enoita, 

E tudo brilha, e esplende, e exulta, e harpeja, e encanta!



Claro, ao sol refulgindo, o Jaguaribe, lento,

Coleia, estuante, a arfar, os mangues alagando,

E, à praia, o coqueiral move e fustiga o vento...



Ao longe passa a voar, de marrecas um bando...

O rio, ansiando mais, lança-se ao Mar violento:

E o hino triunfal da Luz, ei-lo que vai cantado!...

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Trabalho e Esporte



Quem não trabalha,

apenas cumpre a tarefa 

do jugo que lhe é imposto.


Quem não compete,

apenas exercita a atividade 

do jogo em que foi inserido 


O trabalhador e o atleta

suam a camisa

para conseguir o pão 

do seu sustento e da sua família 


O atleta e o trabalhador

enfrentam desafios 

para obter o mínimo 

existencial de Justiça 


O atleta trabalha 

e o seu merecimento  

deve ser reconhecido

como a de todo trabalhador 


O trabalhador triunfa

e a sua retribuição 

é um pódio 

como de um atleta vencedor 


Trabalho e Esporte

são manifestações 

da humanidade 

e libertam corpo e alma 

na busca da dignidade.




Minguito, 09 de abril de 2022.


terça-feira, 23 de abril de 2024

O Flamboyant





 Beni Carvalho



Forte, esgalhado, heril, o flamboyant, de flores

Rubras, na antiga fronde, ostentava a vitória

De púrpura triunfal, na opulência da glória

Do sol, no alto do Azul, todo em chama e fulgores.



Lutou.  Venceu heróico!  A conquista, na história

Vegetal, alcançou no meio de esplendores:

— Ora, altivo, pompeando à luz as rubras cores;

— Ora, verde, a cantar a Esperança ilusória!



Hoje, porém, descansa o flamboyant por terra, 

Sangrenta a floração, circundando-o, morrendo, 

À agonia mortal, que o seu martírio encerra:



— Egrégio lutador que, na refrega, exangue,

Fulminado, semelha, a cair, combatendo,

Um cadáver de herói, salpintado de sangue!

segunda-feira, 22 de abril de 2024

No Fundo da Cozinha

 





No fundo da cozinha,

a gente canta,

a gente dança,

a gente brinda


No fundo da cozinha,

a gente come

a gente bebe,

a gente ri


No fundo da cozinha,

há mais filosofia 

do que em qualquer livro

ou aula da academia


No fundo da cozinha,

a gente sonha,

a gente ama,

a gente vive.




Salvador, 24 de abril de 2022.


domingo, 21 de abril de 2024

Magdá (Um quadro de Tiziano)

 





Beni Carvalho



Colo desnudo em flor, lábio entreaberto em prece, 

olhos, no alto, exorando o perdão de seu crime, 

Magdalena, a ofegar, toda em febre aparece... 

E o almo encanto da Vida e do Pecado exprime.



Perscruta o coração, que o Amor, voraz, oprime; 

Sente-lhe a luta, e a dor que, dentro da alma, cresce... 

E, a cada pulsação que lhe o peito oprime,

Os delírios sensuais, em prantos, amortece.



Em fogo o olhar, tremendo a voz, a mente em brasas, 

Desnastrado o cabelo em ondas de veludos,

Demanda o Azul, assim, nessas formosas asas...



Enquanto, aos céus, contrita, a suplicar, exangue,

Mostra os duros punhais dos seios pontiagudos,

Ainda quentes de amor, ainda rubros de sangue!