sábado, 18 de fevereiro de 2023

Superados





Birão Santana


      O sol,

       o céu

       a música,

       pássaros

       e o verde

       estavam presentes,

       palpáveis

       em mim.

       Você

       distante,

       mas presente,

       se interpondo

       ao sol,

       ao céu,

       à música,

       aos pássaros,

       ao verde,

       a mim,

       reinava.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Reconstruindo a História

 



Rodolfo Pamplona Filho



Desde a supressão

de um personagem

em Guerras Secretas

até a retirada de fotos

de um mural institucional,

passando pela defesa

da concepção imaculada

(e da permanência virginal,

mesmo após o parto

e com a continuidade

da vida conjugal...),

tudo pode ser visto

ou revisto,

sob a ótica,

a filosofia

e a ideologia

de quem conta

a história...

Assim, fica fácil

falar dos mistérios da fé

ou de eleições com

votos de sangue

ou 100% de aprovação...

E quando se percebe

a profunda manipulação,

surge a reforma,

a contra-reforma,

a marcha de protesto

ou a primavera árabe,

em que quem

não está acostumado

a ser sequer contestado

tem de ser confrontado

com sua situação

de ditador de plantão,

mesmo sem clara intenção

de se tornar seu próprio

objeto de adoração.


Madrid, 01 de outubro de 2012.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Noturno

 



Leal de Souza




     As luzes de ouro da cidade

     Vaporam fúlgida neblina...

     Esquivo ideal — felicidade,

     Qual dessas luzes te ilumina ?



     Fria a vontade e o peito ardente,

     De bens e males sob os rastros,

     O homem aos sonhos ergue a mente

     E não levanta o olhar aos astros.



     Por essas luzes atraídos,

     Filhos do vale e da planura,

     De longe vieram, atrevidos,

     Bater às portas da ventura ...



     As luzes de ouro da cidade

     Vaporam fúlgida neblina...

     Esquivo ideal — felicidade,

     Qual dessas luzes te ilumina?...

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Sagapo

 




Rodolfo Pamplona Filho


Kalimera,

agapi mou!

Giassou,

minha Athenea!

Deixe-me ser seu Colosso,

parakalo,

procurar suas curvas

e cavernas de Santorini...

Fugirei para Patmos,

pregarei em Éfeso

e sonharei em Mikonos.

Quero ser sua Acrópole,

matando o minotauro em Creta

seemera et avrio.

Seja a minha forma clássica:

dórica, jônica ou korinthia...

Sagapo, meu Parthenon!

Se me fascinam

as mulheres de Atenas,

da vida, eu quero

somente você apenas.


Atenas/Grécia, 29 de setembro de 2012.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Esquiva

 



Garcia Rosa


     Quando passas altiva e desdenhosa,

     Como uma deusa em mármore esculpida,

     Lembras-me a Grécia antiga e luminosa

     E, adorando a Mulher, bendigo a Vida.


     Toda a força do amor misteriosa

     Trazes soberbamente refletida

     Na perfeição da plástica mimosa

     E na graça do andar, indefinida...


     Mas quando te acompanho na esperança

     De penetrar os íntimos refolhos

     Dessa alma em flor, que a amar não se abalança,


     Volves em torno, distraída, os olhos,

     Na pertinácia vã de uma esquivança

     Que semeia ilusões em vez de abrolhos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Medicina

 



Rodolfo Pamplona Filho



É no Santuário de Sculapio,

em que Hipócrates separou

o Logos da Cega Crença,

que se depositam as esperanças

de quem ainda crê em salvação,

não da alma perdida ou maltratada,

mas, sim, do corpo massacrado,

entregue às intempéries da saudade,

no sofrimento da enfermidade.

Não se sabe quem cura:

se Deus ou a mão do homem...

Isto pouco importa para quem busca

a retomada do vigor,

o reencontro do calor

e a superação do torpor

do sofrimento e da dor.


Atenas/Grécia, 29 de setembro de 2012, pensando no Templo de Sculapio.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Formosa

 



Maciel Monteiro


    Formosa, qual pincel em tela fina

     Debuxar jamais pode ou nunca ousara;

     Formosa, qual jamais desabrochara

     Na primavera a rosa purpurina;


     Formosa, qual se a própria mão divina

     Lhe alinhara o contorno e a forma rara;

     Formosa, qual jamais no céu brilhara

     Astro gentil, estrela peregrina;


     Formosa, qual se a natureza e a arte,

     Dando as mãos em seus dons, em seus lavores

     jamais soube imitar no todo ou parte;


     Mulher celeste, oh! anjo de primores!

     Quem pode ver-te, sem querer amar-te?

     Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!