quarta-feira, 4 de maio de 2016

parapeito



(já morei em gaiolas)

hoje, da minha janela sem grades
convido os pássaros a entrarem
sem medo


 
oferto-lhes frutas
e aguardo

eles vêm
comem
cantam
e voam

eu fico
alimentado

terça-feira, 3 de maio de 2016

Adoção Afetiva


 Rodolfo Pamplona Filho






A vida me contemplou
com filhos maravilhosos,
tanto no sangue,
quanto no coração!

Isso se dá, com fé,
pois, definitivamente,
a paternidade não é
uma biologia permanente.

É muito mais do que isso:
é uma eleição de paradigma
de quem assume o compromisso
de não ser um enigma.

Apadrinha-se, torna-se companheiro,
confidente, ombro amigo e parceiro.
Comemora-se junto, chora-se também,
da verdade biológica, vai-se além...

A paternidade por adoção afetiva
honrou-me com um carinho
que nem todos têm na vida...
que não se compreende sozinho...

mas que é a prova mais dura
de que pessoas podem se amar
e se entregar de forma pura,
sem qualquer outro interessar,

como deveria ser, aliás,
em qualquer verdadeira relação
de um afeto que não volta atrás...
de uma escolha consciente de devoção.

Aracaju, 07 de outubro de 2010.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Anseio

Augusto dos Anjos
 






Que sou eu, neste ergástulo das vidas
Danadamente, a soluçar de dor?!
— Trinta triliões de células vencidas,
Nutrindo uma efeméride inferior.



Branda, entanto, a afagar tantas feridas,
A áurea mão taumitúrgica do Amor
Traça, nas minhas formas carcomidas,
A estrutura de um mundo superior!


Alta noite, esse mundo incoerente
Essa elementaríssima semente
Do que hei de ser, tenta transpor o Ideal...


Grita em meu grito, alarga-se em meu hausto,
E, ai! como eu sinto no esqueleto exausto
Não poder dar-lhe vida material!

domingo, 1 de maio de 2016

Saudade de Casa

Rodolfo Pamplona Filho




Por vezes, tenho vontade de chorar...
Sei o motivo, mas não consigo controlar
Há um vácuo que preenche o que era completo
Uma carência de beijo, dengo e afeto

Não sei o que é pior: a distância ou a despedida;
O romper do contato no momento da partida
Um olhar para trás, um abraço apertado,
um aceno tristonho, um olhar desolado...

Como uma dor machuca tanto sem ferir?
Como dominar o que posso apenas sentir?
A paz é arrancada desde a raiz
Uma marca viva que não vira cicatriz...

Pense duas vezes antes de reclamar
Dos problemas da vida, da rotina do lar...
Há tristeza que ninguém sabe como se mede
Só se valoriza o que se tem quando se perde

A lágrima vem solta e quente
Quem negar isso apenas mente
mas faz bem, porque, como um rio
leva o fel para um outro lado vazio....

A cada alvorecer, há uma nova esperança...
que surge inocente, como sorriso de criança,
mudando planos e rumos, batendo asa,
tudo por causa da saudade de casa...

Ciudad Real, 09 de setembro de 2008