sábado, 4 de outubro de 2014

O QUE SIGNIFICA ORÉGANO

O QUE SIGNIFICA ORÉGANO

Luiz Fernando Veríssimo


              Você eu não sei, mas eu estou preocupadíssimo com a revelação de que os americanos têm monitorado tudo que é dito e escrito no Brasil nos últimos anos. Ouvem nossos telefonemas, leem nossos e-mails e provavelmente examinam o nosso lixo, atrás de indícios da nossa periculosidade.

O que me preocupa é que esta informação, depois de coletada e classificada, é analisada talvez pelas mesmas pessoas que nunca duvidaram que o Saddam Hussein tivesse armas de destruição em massa e nunca estranharam que os sequestradores daqueles aviões que derrubaram as torres, no onze de nove, não se interessassem pelas aulas de aterrissagem nos seus cursos de aviação.
Quer dizer, que garantia nós temos que não se enganarão de novo, e verão ameaças à segurança americana nas nossas comunicações mais inocentes?

Um simples telefonema entre namorados (“desliga você”, “não, desliga você”) pode ser interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas. Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa Branca.
O fato é que tenho tentado recapitular todos os meus telefonemas e e-mails nos últimos anos, com medo de que um deles, mal interpretado, acabe provocando minha aniquilação por um drone.

Ou então me vejo chegando nos Estados Unidos, sendo barrado por um agente da imigração e levado para uma sala sem janelas, onde sou cercado por outros agentes, provavelmente da CIA, que me pedem explicações sobre um telefonema, obviamente em código, que fiz antes de viajar. Reconheço minha voz na gravação.

— O que quer dizer “à calabresa”, Mr. Verissimo? — pergunta um dos agentes.
Estou confuso. Não consigo pensar. Calabresa, calabresa...

— Alguma referência à máfia? Uma ligação da organização terrorista, à qual o senhor evidentemente pertence, com a Camorra, visando a um atentado aqui nos Estados Unidos? O senhor veio se encontrar com a máfia americana para acertar os detalhes do complô. É isso, Mr. Verissimo?

— Não, não. Eu...

— Notamos que, mais de uma vez na gravação, o senhor diz “sem orégano, sem orégano”. Deduzimos que há uma divergência dentro do complô entre vocês e a máfia, uns a favor de se usar “orégano” no atentado, outros contra. O que, exatamente, significa “orégano”?
Finalmente, me dou conta.

— Orégano significa orégano. Eu estava pedindo uma...

— Por favor, não faça pouco da nossa inteligência, Mr. Verissimo. Não gastamos milhões de dólares para ouvir que orégano significa orégano.




sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Meus Direitos...

Meus Direitos...

Rodolfo Pamplona Filho
Desconfie!
Mas desconfie mesmo
de quem não liga
para o contexto
em que está inserido
e só alega o pretexto
de seus direitos
ou da sua peculiar situação...
Há poucas coisas
tão irritantes
quanto quem repete
e exibe
suas prerrogativas,
como se fosse
um passaporte
para o destaque,
que só a si pertencesse,
que só a si fosse importante...
Quando todos tiverem prioridade
- leia-se, privilégios! -
ninguém terá nada...

Salvador, na primeira semana de outubro de 2013,

mas pensando no Equador, ou em outras experiências recentes da minha vida...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

visão da lua (um poema em prosa às mulheres...)

visão da lua
(um poema em prosa às mulheres...)
Elise Haas 

o feminino se esconde
não é para todos e nem é a todo o momento que ele se revela
precisa de uns ingredientes mágicos
pois é profundo e sensível
alegre e criativo
só que não se desperdiça à toa
preza pela graciosa acolhida de corações sinceros,
libertos,
que possam conquistá-lo e respirá-lo,
ainda que apenas por um instante

mas é fácil, não complicado
abrir-se e aguardar sua chegada
...
junto com a lua, o feminino vem,
tal como ela
- cheia, nova, crescente, minguante - 
mutável e constante...

silenciosamente, 
se desvela,
basta crer, e esperar, sem ansiar
só esperar...

tente lembrar aqueles momentos
em que você permitiu sua chegada
havia neles alguns ingredientes, creio...

talvez um pouco de mistério, 
uma colher cheia de alegria, 
umas pitadas de cumplicidade, 
um punhado de intimidade,
certa sensualidade bem dosada
e quase obscena profundidade...

algo mais de indefinível e sem palavras, 
como uma dança
um acorde
como um poema,
um passo,
um vôo, gostoso,
uma súbita e visceral gargalhada...
...
outras vezes, foi só imensidão,
como um céu escuro e infinito
velando o que restou do dia...
...
é...
é bem assim...
quando você se lembra dele
e olha alto o céu
ele aparece, de mansinho, 
pois a todo o tempo está lá

e, tal como a lua
lhe acompanha e caminha
segue seu ciclo

basta você ter olhos de ver, 
e corações de sentir
que ele vibra, e toca 
o seu canto almado - cante jondo
e toma o seu ser


Imagem: "Dancer" (Gustav Klimt)


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Não tem jeito

Não tem jeito

Rodolfo Pamplona Filho
Não há como
Nao tem jeito
Ainda me assusto
com toda afirmação peremptória
de inevitabilidade de um resultado...

Não há como
Nao tem jeito
O que é mera tosca impressão
chega como uma determinação
de uma profecia consumada...

Não há como
Nao tem jeito
Como posso lidar
com uma realidade
impossível de se mudar,
só porque nao se quer...


Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2013, pensando em certas companhias...

terça-feira, 30 de setembro de 2014

ETERNA

ETERNA
                                                   Juraci Alves
Não imaginava e nem esperava
Que a aurora trouxesse todo este brilho
Sua graça, carinho e harmonia
Que reflete o seu coração

Seus lábios também brilham
Seu olhar firme me faz sonhar
Sempre vivendo verá
A aurora e o brilhar

Você não é estrela
Porque não tem luz própria
É brilho que reflete nela
Ousada, bela e preciosa, princesa do meu olhar

Na claridade que irradia do fundo do seu coração
Quem sabe um dia
Contemplar seu bilhar olhando nos seus olhos
E sentir a glória que um homem pode sonhar.

Lauro de Freitas/BA, 16/08/2013 às 01:12




segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Ronin

Ronin

Rodolfo Pamplona Filho
Samurai errante
que não serve
a nenhum mestre,
além de si mesmo...
Será tão diferente
do resto da humanidade?

No Vôo do Equador para o Brasil, em 05 de outubro de 2013,

lendo sobre Wolverine e a tradição japonesa dos samurais...

domingo, 28 de setembro de 2014

BROTINHO DE 60

BROTINHO DE 60

Uma sexagenária resolveu fazer hidroginástica. 

Cheia de gás e autoconfiança, entrou na secretaria da academia. 

Mal chegou, a professora olhou-a de cima abaixo e avisou: 
- Precisamos proceder a uma avaliação. 

Pegou uma ficha, preencheu com seu nome e endereço e mandou brasa: 

- Então a senhora já tem mais de sessenta anos? 
- Pois é, minha filha, há seis anos virei sexy. 

- Como? A senhora disse sexy? 
- É, sexy de sexyagenária, entendeu? 

- A senhora tem falta de ar? 
- Não, tenho falta de tempo. 

- Às vezes sofre de tontura? 
- Sofro muito com as tonteiras dos outros. 

- Tem hipertensão? 
- Não, tenho hipertesão. Permanente e estável.

- É diabética? 
- Não, sou diabólica. 

- Tem alergia? 
- A estupidez e preconceito. 

A esta altura, a moça não se conteve: 
- A senhora é doida? 
- Por Homem!!! 

O MAIS FANTÁSTICO DA VIDA É ESTAR COM ALGUÉM QUE SABE FAZER DE UM PEQUENO INSTANTE UM GRANDE MOMENTO. 

Minha homenagem às Sexyagenárias que tornam a terceira idade uma fase de novas e interessantes aventuras e descobertas.