sábado, 3 de setembro de 2022

Desmascarando o Canalha



 Rodolfo Pamplona Filho



Você se diz infinito,

acreditando que

seu poder é ilimitado,

mas está errado!


Você não passa de

um acidente da natureza,

um câncer da criação,

um tumor com ilusões de grandeza...


É hora de extirpá-lo...

jogando-o no lixo, que é o seu lugar,

para que eu dance sobre seu caixão

e escarre em sua sepultura...


Apenas mais irritantes que

as trombetas da moralidade alheia

(pois a própria não vale nada...)

só os sepulcros caiados

que posam de vestais nas cerimônias,

sem pudor da sua podridão interior...

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

A louca




Augusto dos Anjos



Quando ela passa: - a veste desgrenhada,

O cabelo revolto em desalinho,

No seu olhar feroz eu adivinho

O mistério da dor que a traz penada.


Moça, tão moça e já desventurada;

Da desdita ferida pelo espinho,

Vai morta em vida assim pelo caminho,

No sudário de mágoa sepultada.


Eu sei a sua história. - Em seu passado

Houve um drama d’amor misterioso

- O segredo d’um peito torturado -


E hoje, para guardar a mágoa oculta,

Canta, soluça - coração saudoso,

Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Cheiro









Seu cheiro em minha roupa

é a prova mais louca

de um amor real

mas, para muitos, imoral...


Guardo seu cheiro na memória

na esperança que o inesperado

possa mudar a nossa história

e nos dar a esperada vitória


....de um amor pleno,

que, sempre a contento,

cresce e se fortalece....


...de um sentimento sincero,

que, um dia, espero,

possa ser tão público quanto seu perfume.


domingo, 20 de dezembro de 2015

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Crime poético





Quais os elementos do crime?

Típicos são os versos do poeta,

Por transcrever sua ilicitude emotiva,

Tornando por isto culpável,

Aos olhos alheios?...


Por tanto assim ele deve buscar seu excludente,

Defendendo sua inspiração,

Tendo como arma do delito,

Papel e caneta...


Deve suprir a necessidade,

Que eclode de seu âmago,

Ainda que o mundo desaprove,

A artística faceta...


O cumprimento do dever legal,

Exercendo seu direito de expressão,

Ainda que aparentemente seja tido como imoral,

Pela opinião alheia estreita...


Diante de tantas críticas a arte jurídica,

Proferidas tantas condenações em sentenças subtendidas,

Poetar é um ato punitivo,

E só resta ao estudante da lei altivo,

Buscar o êxito bom e justo...

... na contenda.


-Fabiano Oliveira 24/06/2011 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

É Preciso Viver Mais Leve

 




Todo mundo não quer enganar, sim,

Nem todo táxi cobrará mais caro!

Há comidas que não têm gosto ruim

E, na verdade, é a maioria do prato.


E as crianças não ficarão doentes, 

pelo menos não necessariamente,

se não comerem toda a comida,

ainda que não imediatamente!


Um sorriso não é uma coisa bem

tão difícil assim de esboçar,

mesmo quando não se tem

tanta prática assim a contar...


Caminhar não é idéia a desprezar,

ainda mais se desperta o apetite,

O planeta é imperfeito para morar,

mas não é assim tão triste...


Sei que parece impossível tentar,

mas consiga um dia sem reclamar

do tempo, da vida, das dores,

que só se sente porque há amores...


Pense que para não enjoar,

basta, por exemplo, variar,

pois não fazer o mesmo sempre

é o inicio de um caminho diferente.


Sei que não é assim para você...

são os outros que vêem equivocado,

mas faça um esforço para perceber

não é lógico todos estarem errados


quando simplesmente têm esperança

que você ache o prazer na dança

de curtir o prazer desta vida breve

pois é preciso viver mais leve...



Buenos Aires, 21 de junho de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O Fim do Mundo




Ele era conhecido como o Zé do Fim do Mundo, porque era onde realmente vivia, ou sobrevivia, naqueles confins do sertão bruto, nas fronteiras de lugar nenhum, uma região sem nome e esquecida por Deus, como ele próprio resmoneava entre dentes e às vezes clamava aos céus em altos brados. Suportou a seca, o sol, a poeira e o apelido até que, num momento de epifania, uma voz lhe soprou aos ouvidos que a alcunha era justa, porque fora escolhido pela Divindade para alertar ao mundo que o Dia do Juízo se aproximava; que desta vez vinha mesmo, embora em outras ocasiões o Divino tenha coçado o cocoruto, pensado melhor e desistido de extinguir a sua criação, observando com Sua suprema bondade uma qualidadezinha aqui e outra ali. José atendeu ao chamado e mudou-se para a capital, assumindo com toda diligência e fervor a missão de pregar a chegada iminente do Apocalipse. Acordava cedinho, vestia um manto encardido e ia para as praças, onde brandia com severidade a palavra e o báculo contra os impenitentes que, passando a conhecê-lo, mantinham-se a distância prudente do pesado varapau. Um dia, resolveu lançar as suas imprecações contra um bando de punks que por ali passava, cujo cabelo colorido, roupas de couro e atitude debochada não lhe deixaram dúvidas quanto à qualidade de enviados de Satanás para desviar os crentes do caminho da verdade e sabotar o trabalho dele, José. Os ditos cujos, à vista das pessoas que ali estavam e que, embora condoídas, não se atreveram a interferir, passaram a voejar como corvos em torno do pregador e, enquanto riam com fúria demoníaca, desfechavam-lhe murros e sopapos, tentando o pobre inutilmente afastá-los com o seu bordão. Tomaram-lhe por fim o cajado e, com ele, moeram-no a pauladas, deixando-o estendido na praça como morto, os braços abertos como um Cristo descido da cruz. Após longo tempo nas Clínicas, entre a vida e a morte, as autoridades chegaram à conclusão de que José, solto por aí, representava um perigo para si e para a comunidade. Por mais que ele assegurasse a todos que era realmente um profeta, um enviado do Senhor, com a missão de preparar os escolhidos para o advento do Apocalipse, cujos Quatro Cavaleiros já se podiam divisar em horizonte próximo, o palavreado só serviu para convencer as pessoas da sua falta de senso e a decisão de interná-lo como insano não sofreu contestação a não ser a dele próprio, que sentia não ter ali o seu bordão, para pôr a cacetadas um pouco de fé na cabeça daqueles incréus. Nada adiantou e o Fim do Mundo pegou-o alguns dias depois no quarto 36 do Sanatório Municipal.

 -Fausto Couto Sobrinho - outubro de 2012

domingo, 28 de agosto de 2022

Menos Papo, Mais Ação

 




Não agüento

tanta enrolação.

O mundo é lento,

mas não é ilusão.

Se alguém diz, à mesa:

- Vamos marcar!

Tenha certeza:

nunca vai ligar!


Quero

Menos papo, mais ação

Mais obra, menos omissão

Menos conversona

Mais conversão


Cansei de conviver

com embromação.

É preciso perder

esta estranha sensação

de que basta alegar

para satisfazer!

Pare de falar,

comece a fazer!


Quero

Menos papo, mais ação

Mais obra, menos omissão

Menos conversona

Mais conversão



-Buenos Aires, 23 de junho de 2011