Menino chora
Pipa sumiu no espaço
Linha partida.
Galhos curvados
como a pedir perdão
Nobre chorão.
Finados... Mortos
Presença dos ausentes
Quanta saudade...
Iracema de Camargo Aranha
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Menino chora
Pipa sumiu no espaço
Linha partida.
Galhos curvados
como a pedir perdão
Nobre chorão.
Finados... Mortos
Presença dos ausentes
Quanta saudade...
Iracema de Camargo Aranha
Desejo morrer
por não poder
fazer mais do que
fiz para você,
na ilusão de que controlaria
onde o Sol um dia se poria.
Desejo morrer
por não conseguir
fazer você afinal sorrir
depois de uma vida
de luta, dor e lamento
como se sua sina fosse o sofrimento.
Desejo morrer
por não consumar o
tudo que sonhei realizar,
sentindo-me preso
a uma vida sem sabor
onde nunca terei o fogo do amor.
Salvador, 16 de junho de 2018.
Quem saltará
do fundo do meu espelho
revestido de bruma
de elmo
de escudo
e espada na mão?
Certamente
cavaleiro templário
dono de estratagemas e artifícios
fiel guardião
de todos os meus mistérios.
Társio Pinheiro
A TV divulga, a rádio anuncia,
o jornal comunica
o saldo das mortes do final de semana...
o trânsito, o acidente doméstico
ou a costumeira e pontual queima de arquivo...
Normal...
Ouvimos impassíveis,
tomando o café nosso de cada dia,
no meio das notícias políticas
ou da alegria, tristeza com
o resultado do jogo do nosso time...
Normal...
Não há espaço para indignação,
nem mesmo há tempo para isso...
A informação passa por
nossos olhos e ouvidos
como uma brisa imperceptível...
Normal...
O sangue escorre das imagens,
do som e dos papéis...
mas não se sente nada...
Anestesia coletiva, difusa e impessoal...
A apatia e a indiferença
não fazem acepção de pessoas...
Normal...
Normal?
Salvador, 16 de agosto de 2010, uma segunda-feira sangrenta...
A estrada pertence ao homem que a ilumina
e busca dar certeza
aos passos que exercita afoito.
É também da mulher que aguarda dar à luz,
suor brotando meio ao sangue,
o seio pesado e entumescido
premiando a vitória do parir.
Cordões rompidos preservam resquícios,
rastros de passado na terra úmida;
frutos cobiçados, maturação alcançada,
choro irrompendo uma membrana fina.
Ainda que os mortos-vivos se levantem,
e cantem pela manhã os pássaros indiferentes,
o mundo é dos obstinados que se entregam,
e pensam que carregam o necessário dentro de si.
A chegada, porém, pertence ao homem corajoso,
aquele que despreza o tempo no afago à sua amada;
à mãe que sorri, indolente, noite enluarada,
e conta sempre ao filho coisas engraçadas.
Não precisa dormir, nem dar à luz, nem nada,
tampouco encenar uma vida agitada.
O final da rota é apenas o início,
um útero macio que comporta, aquecido,
a calma experiência de um viver fugaz.
Georgina Albuquerque
A última nota na canção.
O arremate da costura
O ponto final na redação
O encerramento da semeadura
O beijo de despedida
O suspiro final
A lágrima vertida
O pecado original
O Adeus na partida
O final da festa
A palavra definitiva
O que mais nos resta
Praia do Forte, 03 de junho de 2018.
Fermosa e gentil Dama, quando vejo
a testa de ouro e neve, o lindo aspeito,
a boca graciosa, o riso honesto,
o marmóreo colo e branco peito,
de meu não quero mais que meu desejo,
nem mais de vos que ver tão lindo gesto.
Ali me manifesto
por vosso a Deus e ao mundo; ali me inflamo
nas lágrimas que choro;
e de mim, que vos amo,
em ver que soube amar-vos, me namoro;
e fico por mim só perdido, de arte
que hei ciúmes de mim por vossa parte.
Se porventura vivo descontente
por fraqueza de esprito, padecendo
a doce pena que entender não sei,
fujo de mim e acolho-me, correndo,
à vossa vista; e fico tão contente
que zombo dos tormentos que passei.
De quem me queixarei
se vós me dais a vida deste jeito
nos males que padeço,
senão de meu sujeito,
que não cabe com bem de tanto preço?
Mas ainda isso de mim cuidar não posso,
de estar muito soberbo com ser vosso.
Se, por algum acerto, Amor vos erra,
por parte do desejo cometendo
algum nefando e torpe desatino;
se ainda mais que ver, enfim, pretendo;
fraquezas são do corpo, que é de terra,
mas não do pensamento, que é divino.
Se tão alto imagino
que de vista me perco – peco nisto –,
desculpa-me o que vejo;
que se, enfim, resisto
contra tão atrevido e vão desejo,
faço-me forte em vossa vista pura,
e armo-me de vossa fermosura.
Das delicadas sobrancelhas pretas
os arcos, com que fere, Amor tomou,
e fez a linda corda dos cabelos;
e, porque de vós tudo lhe quadrou,
dos raios desses olhos fez as setas
com que fere quem alça os seus, a vê-los.
Olhos, que são tão belos,
dão armas de vantagem ao Amor,
com que as almas destrui;
porém, se é grande a dor,
co a alteza do mal a restitui;
e as armas com que mata são de sorte
que ainda lhe ficais devendo a morte.
Lágrimas e suspiros, pensamentos,
quem deles se queixar, fermosa Dama,
mimoso está do mal que por vós sente.
Que maior bem deseja quem vos ama
que estar desabafando seus tormentos,
chorando, imaginando docemente?
Quem vive descontente
não há-de dar alívio a seu desgosto,
por que se lhe agradeça;
mas com alegre rosto
sofra seus males, para que os mereça;
que quem do mal se queixa, que padece,
fá-lo porque esta glória não conhece.
De modo que, se cai o pensamento
em algüa fraqueza, de contente
é porque este segredo não conheço:
assi que com razões, não tão-somente
desculpo ao Amor de meu tormento,
mas ainda a culpa sua lhe agradeço.
Por esta fé mereço
a graça, que esses olhos acompanha,
o bem do doce riso;
mas porém não se ganha
cum paraíso outro paraíso.
E assi, de enleada, a esperança
se satisfaz co bem que não alcança.
Se com razões escuso meu remédio,
sabe, Canção, que, porque não vejo,
engano com palavras o desejo.
Luís Vaz de Camões