Rodolfo Pamplona Filho
Sonhos Mudam
de verdade
Sonhos Mudam
com a idade
Sonhos Mudam
na realidade
Sonhos Mudam
para a eternidade
Rhodes, 26 de setembro de 2012.
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Rodolfo Pamplona Filho
Sonhos Mudam
de verdade
Sonhos Mudam
com a idade
Sonhos Mudam
na realidade
Sonhos Mudam
para a eternidade
Rhodes, 26 de setembro de 2012.
Álvaro de Campos
Na rua cheia de sol vago há casas paradas e gente que anda.
Uma tristeza cheia de pavor esfria-me.
Pressinto um acontecimento do lado de lá das frontarias e dos movimentos.
Não, não, isso não!
Tudo menos saber o que é o Mistério!
Superfície do Universo, ó Pálpebras Descidas,
Não vos ergais nunca!
O olhar da Verdade Final não deve poder suportar-se!
Deixai-me viver sem saber nada, e morrer sem ir saber nada!
A razão de haver ser, a razão de haver seres, de haver tudo,
Deve trazer uma loucura maior que os espaços
Entre as almas e entre as estrelas.
Não, não, a verdade não! Deixai-me estas casas e esta gente;
Assim mesmo, sem mais nada, estas casas e esta gente...
Que bafo horrível e frio me toca em olhos fechados?
Não os quero abrir de viver! ó Verdade, esquece-te de mim!
Rodolfo Pamplona Filho
É preciso valorizar
a tentativa,
pois o resultado
nem sempre depende de nós.
É preciso valorizar
a iniciativa,
pois nem todos conseguem
superar a letargia.
É preciso valorizar
o esforço,
pois o suor derramado
nunca voltará ao corpo.
É preciso valorizar
a boa vontade,
pois nem que tudo que se consegue
foi feito de coração.
É preciso valorizar
o cuidado,
pois simplesmente realizar uma tarefa
não é sinônimo de dedicação.
É preciso valorizar
o desprendimento,
pois ninguém é obrigado
a dar um pedaço de si.
Boston, 01 de julho de 2016.
Álvaro de Campos
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.
(14-10-1930)
Rodolfo Pamplona Filho
Todo mundo não quer enganar, sim,
Nem todo táxi cobrará mais caro!
Há comidas que não têm gosto ruim
E, na verdade, é a maioria do prato.
E as crianças não ficarão doentes,
pelo menos não necessariamente,
se não comerem toda a comida,
ainda que não imediatamente!
Um sorriso não é uma coisa bem
tão difícil assim de esboçar,
mesmo quando não se tem
tanta prática assim a contar...
Caminhar não é idéia a desprezar,
ainda mais se desperta o apetite,
O planeta é imperfeito para morar,
mas não é assim tão triste...
Sei que parece impossível tentar,
mas consiga um dia sem reclamar
do tempo, da vida, das dores,
que só se sente porque há amores...
Pense que para não enjoar,
basta, por exemplo, variar,
pois não fazer o mesmo sempre
é o inicio de um caminho diferente.
Sei que não é assim para você...
são os outros que vêem equivocado,
mas faça um esforço para perceber
não é lógico todos estarem errados
quando simplesmente têm esperança
que você ache o prazer na dança
de curtir o prazer desta vida breve
pois é preciso viver mais leve...
Buenos Aires, 21 de junho de 2011
Álvaro de Campos
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...
Rodolfo Pamplona Filho
Seu cheiro em minha roupa
é a prova mais louca
de um amor real
mas, para muitos, imoral...
Guardo seu cheiro na memória
na esperança que o inesperado
possa mudar a nossa história
e nos dar a esperada vitória
....de um amor pleno,
que, sempre a contento,
cresce e se fortalece....
...de um sentimento sincero,
que, um dia, espero,
possa ser tão público quanto seu perfume.
Praia do Forte, 23 de janeiro de 2011.