sábado, 22 de julho de 2017

Necessidade de Reclamar




Rodolfo Pamplona Filho


Há indivíduos que
mal comem feijão com arroz
e querem questionar
a qualidade do champagne...
Pessoas que não sabem distinguir
um idioma de um dialeto,
um prato de um lanche
ou uma casa de um lar
e querem posar para a sociedade
como sacerdotes do culto,
vestais do templo
ou oráculos da verdade...
Pobres diabos,
eles não sabem
o que fazem, pois
sua vontade de viver
se confunde com
sua necessidade de reclamar...

Pamplona/Espanha, 03 de outubro de 2012.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Paratodos




Chico Buarque de Holanda

               

O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas

Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro

Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho

Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto

Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens a vista

O meu pai era paulista
Meu avô pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Soneto da Dissonância Cognitiva




Rodolfo Pamplona Filho

Contrastar uma crença básica
em oposição diametral à outra.
Viver uma vida antropofágica,
devorando o que está à solta.

Declarar-se algo
que se sabe que não se é...
pois tudo que conquistou
foi baseado em um temor

que deixou de existir,
passando a viver
somente para repetir

o que nem mais se crê,
em  uma forma de auto-punir,
ao impor a si mesmo um sofrer...

Mikonos, 24 de setembro de 2012.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Formosa

Maciel Monteiro






Formosa, qual pincel em tela fina

Debuxar jamais pode ou nunca ousara;

Formosa, qual jamais desabrochara

Na primavera a rosa purpurina;





Formosa, qual se a própria mão divina

Lhe alinhara o contorno e a forma rara;

Formosa, qual jamais no céu brilhara

Astro gentil, estrela peregrina;





Formosa, qual se a natureza e a arte,

Dando as mãos em seus dons, em seus lavores

jamais soube imitar no todo ou parte;





Mulher celeste, oh! anjo de primores!

Quem pode ver-te, sem querer amar-te?

Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!

terça-feira, 18 de julho de 2017

Medicina




Rodolfo Pamplona Filho


É no Santuário de Sculapio,
em que Hipócrates separou
o Logos da Cega Crença,
que se depositam as esperanças
de quem ainda crê em salvação,
não da alma perdida ou maltratada,
mas, sim, do corpo massacrado,
entregue às intempéries da saudade,
no sofrimento da enfermidade.
Não se sabe quem cura:
se Deus ou a mão do homem...
Isto pouco importa para quem busca
a retomada do vigor,
o reencontro do calor
e a superação do torpor
do sofrimento e da dor.

Atenas/Grécia, 29 de setembro de 2012, pensando no Templo de Sculapio.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Esquiva




Garcia Rosa





Quando passas altiva e desdenhosa,
Como uma deusa em mármore esculpida,
Lembras-me a Grécia antiga e luminosa
E, adorando a Mulher, bendigo a Vida.


Toda a força do amor misteriosa
Trazes soberbamente refletida
Na perfeição da plástica mimosa
E na graça do andar, indefinida...


Mas quando te acompanho na esperança
De penetrar os íntimos refolhos
Dessa alma em flor, que a amar não se abalança,


Volves em torno, distraída, os olhos,
Na pertinácia vã de uma esquivança
Que semeia ilusões em vez de abrolhos.

domingo, 16 de julho de 2017

Sagapo






Rodolfo Pamplona Filho

Kalimera,
agapi mou!
Giassou,
minha Athenea!
Deixe-me ser seu Colosso,
parakalo,
procurar suas curvas
e cavernas de Santorini...
Fugirei para Patmos,
pregarei em Éfeso
e sonharei em Mikonos.
Quero ser sua Acrópole,
matando o minotauro em Creta
seemera et avrio.
Seja a minha forma clássica:
dórica, jônica ou korinthia...
Sagapo, meu Parthenon!
Se me fascinam
as mulheres de Atenas,
da vida, eu quero
somente você apenas.

Atenas/Grécia, 29 de setembro de 2012.