sexta-feira, 13 de junho de 2014

Wanderlust

Wanderlust

Rodolfo Pamplona Filho
Desejo de viajar
Desbravar lugares insólitos
Conhecer pessoas e culturas
Traçar seu próprio destino.


São Paulo, 25 de junho de 2013.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

CASAMENTO ABERTO DÁ CERTO?

CASAMENTO ABERTO DÁ CERTO?

“Durante 13 anos fui monogâmica, mas com muitas escapadas do marido. Agora, ele veio com a receita ideal: o casamento aberto. Até gosto de me sentir desejada por outros homens e consegui encontrar prazer, mas ao...

mesmo tempo morro de ciúmes dele com outras mulheres. Isso pode dar certo? Carinho, Maria.

Querida Maria,

O problema do casamento aberto é que ele logo se torna escancarado.

Casamento aberto é uma invenção de quem já traía.

Casamento aberto é uma fachada de lavagem de dinheiro.

Casamento aberto é colorir a amizade e desbotar o amor.

Casamento aberto é uma forma intelectual de acumular mulheres.

Casamento aberto é agência para recrutar nova esposa.

Casamento aberto é dividir os méritos, mas não dividir as dívidas.

Casamento aberto é substituir a sinceridade pela bajulação.

Casamento aberto é o conforto para os indecisos e os mornos.

Casamento aberto é quando o ciúme é menor do que a realidade.

Casamento aberto é se sentir desejada por todos os homens, menos por aquele que você deseja.
Casamento aberto é a receita ideal para uma vida de solteiro.

Casamento aberto é menosprezar a dependência dos hábitos.

Casamento aberto é concurso de sósias.

Casamento aberto é falsificar o pecado original.

Casamento aberto é apagar até a possibilidade de trair.

Casamento aberto é transar no divã.

Casamento aberto é admirar a sogra mais do que a esposa.

Casamento aberto é fazer discussão de relacionamento com amantes.

Casamento aberto é perder o privilégio da vigília, de alguém acordado por você reclamando que é tarde demais.

Casamento aberto é ter o sonho assaltado toda semana.

Casamento aberto é transformar o sexo oposto em sexo aposto: casamento, aberto.

Casamento aberto é anular a cobrança e a crítica que você possa receber: é a impunidade amorosa.

Casamento aberto é trocar as portas pelas cercas, é trocar o s cabelos pelos chifres, é trocar a confiança pelo medo.

Casamento aberto é para quem não tem coragem nem de se casar muito menos de se separar.

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Acuado, mas pensando...

Acuado, mas pensando...

Rodolfo Pamplona Filho
Preso, restrito, cercado
Verdadeiramente acuado
Sem noticias
Sem informação
Apenas a tensão
de não poder fazer nada,
mas, mesmo assim, permanecer
em um misto de apoio,
solidariedade e indignação,
não somente com os motivos,
mas com a própria manifestação...
em que o justo pleito
é verbalizado em um grito
há muito reprimido
e que não quer mais calar...
em que o pai quer ensinar
ao filho como reivindicar
e ser finalmente protagonista
de uma sociedade revista...
mas que se sente impotente
diante de quem só quer aproveitar
para vantagem tirar
ou somente barbarizar
e nos colocar a culpa...
A justa medida não é fácil,
pois a justa medida não existe
e o que é mais triste
é ver o combate não à causa,
mas às consequências
de mais de quinhentos anos
de um Estado sem Governo,
de um povo refém do medo,
de um desejo sem ação
de uma nação sem cidadão...

Aeroporto de Guarulhos, noite de 21 de junho de 2013,
tudo pensado,
literalmente parado,
em um quadrado

de espaço recuado...

terça-feira, 10 de junho de 2014

O Plantonista


O Plantonista

Devemos fazer pelos outros o que gostaríamos que fizessem por nós

Por Jeane Vidal

Era uma noite comum no hospital.
O dr. Raul havia acabado de chegar para dar o seu plantão.
No corredor, alguns pacientes aguardavam atendimento. Ninguém em estado grave. Nenhuma emergência. Graças a Deus, tudo parecia tranquilo.
Médico ortopedista, o dr. Raul é um daqueles médicos admirados por todos e muito procurado. Gentil, prestativo, solidário e extremamente profissional.
Embora atenda a maior parte do seu tempo em um hospital particular, ele não abre mão de dar plantão todas às sextas-feiras no hospital municipal, pois sabe da carência de profissionais na rede pública, e por isso faz questão de dar sua contribuição.
Escolheu a medicina por vocação. Tem verdadeira paixão pela vida humana. O seu maior prazer é zelar por ela.
Estava atendendo o quinto paciente da noite quando ouviu uma movimentação estranha na recepção. Ao sair da sala se deparou com vários enfermeiros correndo de um lado para outro, atônitos.
Ainda sem entender o que estava acontecendo, aproximou-se de um deles e perguntou: "Porque esse alvoroço todo?"
O enfermeiro - tomando fôlego - respondeu: "Houve um acidente grave aqui nas proximidades e as vítimas estão sendo trazidas para cá, mas nós não temos estrutura para recebê-las. Não há leitos suficientes para todos. Recebemos a informação de que são aproximadamente dez pessoas - a maioria em estado grave -, e temos apenas seis leitos disponíveis."
Percebendo a seriedade da situação, o dr. Raul decidiu agir rápido.  Era preciso tomar algumas providências para que essas vítimas pudessem ser atendidas em tempo. Qualquer demora podia significar a perda de uma vida, ou de várias.
As ambulâncias começaram a chegar. Uma. Depois outra e mais outra. Na primeira, uma criança de apenas 5 anos com fratura exposta no braço direito. Os pais também gravemente feridos.
Na segunda, quatro jovens, três deles menores de idade.  O quarto, em estado ainda mais grave, não portava documentos, e por isso não pôde ser identificado. Segundo informações dos policiais que atenderam a ocorrência, o veículo em que eles estavam foi o que provocara o acidente. Estavam em alta velocidade e ultrapassaram o farol vermelho, se chocando com uma Van que levava seis passageiros.
A terceira ambulância trazia mais três vítimas, essas, entretanto, com ferimentos leves. Foram atendidas, medicadas e pouco tempo depois receberam alta.
Das sete pessoas gravemente feridas, felizmente, seis puderam ser atendidas e direcionadas para a UTI.
Mais ainda faltava o quarto jovem. Preocupado, o dr. Raul resolveu contatar alguns hospitais. Não havia vagas.
De repente, um fio de esperança. Veio à sua memória um amigo de faculdade que havia montado uma clínica particular e que dispunha de uma UTI com equipamentos de última geração. Era um médico bem-sucedido, também ortopedista, muito conceituado. Contudo, o perfil de seus pacientes era bem diferente dos que o dr. Raul costumava receber em seu plantão - pessoas de baixa renda, que não tinham condições de pagar por um bom convênio e menos ainda por uma consulta particular. Enquanto o seu colega tinha como pacientes pessoas de alto poder aquisitivo, que não se importavam - e tinham condições - de pagar 500 reais por uma consulta.
Mas era uma emergência e ele não ia se negar a prestar socorro, pensou. Além disso, acima de questões financeiras e pessoais está o compromisso com a vida humana.
Quando o dr. Sandro atendeu ao telefone, o dr. Raul foi direto ao assunto: "Temos uma emergência aqui no hospital e não temos estrutura para atender a todos. Preciso que você receba na sua clínica um jovem gravemente ferido em um acidente de trânsito, pois não temos mais leitos."
"E quem irá se responsabilizar pelas despesas?" Foi a primeira pergunta do dr. Sandro.  "Não temos tempo para resolver isso agora, o rapaz precisa de socorro imediato, o tempo está passando e a cada minuto diminuem suas chances de sobrevivência", enfatizou o dr. Raul.
Irredutível, o médico continuou: "Só recebo em minha clínica se alguém se responsabilizar pelas despesas. Minha clínica não é uma entidade filantrópica", ironizou.
Não vendo alternativa e pensando na integridade física do jovem e no seu compromisso com a vida, se comprometeu a arcar com as despesas caso a família da vítima - ainda não identificada - não tivesse condições de pagar.
Como ele ia pagar, ainda não sabia. O que ele sabia era que faria o que estivesse ao seu alcance para salvar uma vida, ainda que de um desconhecido.
Pensou nos pais daquele jovem, que nem imaginavam que o filho, naquele momento, estava agonizando no corredor de um hospital, aguardando atendimento e com a vida por um fio. Pensou no filho. Aquele rapaz devia ter a mesma idade dele. E se fosse ele no lugar daquele rapaz?  Não, ele não podia ficar indiferente. Ia fazer por aquele rapaz o que ele gostaria que fizessem pelo filho dele.
Já na ambulância, sentado ao lado do jovem inconsciente, o dr. Raul pensava na frieza do dr. Sandro. Infelizmente, ele era o retrato da sociedade moderna - que supervaloriza o dinheiro e o poder em detrimento da vida.
Na Clínica, o dr. Sandro aguardava juntamente com sua equipe para atender o rapaz.  A UTI já estava preparada para recebê-lo.
Chega a ambulância trazendo o jovem. Começa a corrida pela vida.  Já na sala de cirurgia, o paciente é preparado para passar por um procedimento cirúrgico. 
Os dois médicos se cumprimentam e seguem lado a lado para a sala de cirurgia, onde o rapaz será assistido.
Ao abrir a porta e se deparar com aquele rapaz, o dr. Sandro fica paralisado. Não podia ser. Aquilo só podia ser uma brincadeira. Mas não era. O coração fica apertado e a consciência o acusa. Ali, diante dos seus olhos, estava o seu único filho. Não conseguindo conter as lágrimas, retirou-se da sala.
Vendo que o colega não tinha condições de conduzir a cirurgia - nem é recomendado em situações como essa -, o dr. Raul assumiu a equipe médica e deu início ao procedimento.
Enquanto isso, do lado de fora, o dr. Sandro, introspectivo, reavaliava os seus valores e sua conduta. O que poderia ter acontecido com seu filho se o dr. Raul não tivesse assumido a responsabilidade pelas despesas da clínica para convencê-lo a prestar socorro ao seu próprio filho? Como pôde ser tão mesquinho? Não fosse a compaixão e amor ao próximo do colega - que ao contrário dele priorizou a vida de um desconhecido -, seu filho não sobreviveria.
Sentia-se envergonhado.
Permaneceu ali sentado por horas, esperando o término da cirurgia, até que, finalmente, o dr. Raul saiu da sala e informou que a cirurgia fora um sucesso. O rapaz estava fora de perigo.
Aliviado, o pai do jovem abraçou o amigo, agradeceu e lhe pediu perdão pela sua má postura, como profissional da medicina e como ser humano.
E comunicou a sua decisão: a partir daquele dia também daria plantão naquele mesmo hospital público para onde o filho havia sido levado. E, a exemplo do amigo, não mediria esforços para salvar uma vida.
Havia aprendido a lição.

"Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas." (Mt. 7:12).

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Vida Morna


Vida Morna

Rodolfo Pamplona Filho
Nem quente, nem frio...
Apenas morno...
Sem novas sensações
ou quaisquer emoções...
Em que um presente
de aniversario
é difícil demais de ser concedido,
mesmo que seja apenas
alguns momentos de seu tempo...
Mas nada disso importa...
É tudo sensibilidade exacerbada
como se bater à porta
fosse fazer nada...
E a vida segue igual...


São Paulo, 23 de junho de 2013.

domingo, 8 de junho de 2014

A Pausa de Clara.
                                                                                        Eu sou a pausa entre duas notas....
                                                                                                              Rainer Maria Rilke

          Quão bela é Bollenstreeck, coberta por tapeçarias de vivas flores   trançadas entre Leiden e Haarlen. Toda região, encantadora, abre-se para o espanto de estar vivo. Lírios, jacintos, íris, dálias, narcisos, orquídeas. As grandiosas plantações de tulipas são um espetáculo à parte. Soberanas, emolduram  os campos com um fulgurante colorido. As tonalidades  se alteram conforme a luz  cintila .
       A primavera é a primavera . E dela emerge uma beleza que predispõe o amor.
       Delicia-me despertar mais tarde  entre cobertas macias. Carícias derramadas.            O amor iluminado  por amanheceres prateados.
      Entardecer acetinado. A flor. A seiva.  A fonte. Deito-me na relva umedecida.   Caminho à beira dos antigos canais de Leiden. Os raios oblíquos do sol poente a refletir nas águas. As pedras seculares  de onde Rembrandt nasceu. A praça ornada pelas copas das árvores.  Esses dias possuem uma delicada  harmonia .  Brisa envolvente sussurrando canções .  Pausa entre as notas. Doce e indolente.
       A tarde se encerra a esperar o  aclarado, luzes das cidades.
      Uma voz me leva  à   libertação.  Conservo-me  ausente do outrora invasivo. Faces mascaradas. Todas aos pedestais. Fantasmas imersos em impérios   acinzentados. A deterioração  das criaturas, aos servos, não causa vergonha. Sendo os servos, bem distintos, dos só pobres serviçais. Soberba teatral. Personagens em  meios às plumas. Estardalham. Submissos a bajular, regalias.  Encenação vulgar. Aplausos. Vitoriosa hipocrisia. Tal loucura dos fantoches!   Cada um se encarregando de  sugar o outro. Rivalidades: pequenas falhas, venenos mortais. Não há vícios entre os apaniguados  que não encontram  silêncios complacentes. Um frio penetrante escorre pelas vísceras  desses.  Lobos se enredam no torpe cenário  de poder, no torpe cenário de glória. Farejam  o fresco sangue. Áspides sombrias.                  
       Eu sinto um deleite secreto, fruído às escondidas, ao  escapar das escadarias.  Crivadas  de pedras. Roubadas dos templos.     
    Consinto  que lamentem o meu destino banal , não  descubram o meu prazer, inundado de mim.
     Na procura por ternura pura, o azul profundo de tantos oceanos , o verde das trilhas  sinuosas entre íngremes penhascos, o branco nas geleiras esculpidas,  o rubro fulgurante dos roseirais, as  luzes, as sombras, a água límpida que lampeja nos lodaçais, em meus dias.
    Mesmo que procurassem, não encontrariam a vida que transborda pelos poros. Não saberiam decifrar os sinais dessa linguagem tão íntima. Não sentiriam o assombro das flamas nas velas instáveis.  A alegria do homem  que  lavra a terra   sem ser servil.   
   Tão afastada  estou desses  corpos sáfaros por veias ressecadas. As cores desabrocham em meu ser como os bulbos das tulipas.  Mantenho janelas e portas abertas aos mares, às montanhas desalinhadas, aos céus e às suas variantes solares- enevoadas-estreladas.
   O murmúrio das melodias queridas  aquece  o coração. A chuva escorrendo pelos telhados. O sibilo do  vento. O tilintar das taças. O badalar dos sinos. O cântico dos pássaros. Os feixes de lenha que tremulam. A sinfonia dos corpos amantes.
     A contemplação das coisas ao redor  aviva  a alma.  A bandeja de prata. A chaleira de porcelana. A toalha de renda.  Os jarros flóreos. Os retratos nos aparadores de nogueira. Os livros espalhados pelos cantos e recantos. O rubi do vinho na mesa posta para o jantar.    
     Os aromas  enraízam  na  memória. O pão e o vinho.  A terra banhada.  O solo adubado. A fragrância dos jasmins e das lavandas. O odor único  do homem amado.
     Recosto-me ao tronco das cerejeiras em flor. Devaneio observando a dança das pétalas onduladas  ao vento.  O espanto da pausa conduz ao voo esperado.
    Existe um tempo de pausa onde não fazer coisa alguma confere  o sentido de plenitude.

  Cláudia Reina

  15 de Junho de 2013.